O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
A comitiva de ministros enviados ao Rio Grande do Sul para anunciar o aporte de recursos para o combate aos efeitos da estiagem voltará a Brasília com uma série de demandas recebidas dos pequenos agricultores. Embora o ato oficial, em Hulha Negra, tenha reunido entidades e movimentos simpáticos ao governo federal que se engajaram na campanha do presidente Lula, os líderes convidados a se pronunciar na cerimônia listaram uma série de pedidos e cobranças direcionadas, sobretudo, aos ministérios.
A impressão geral é de que os R$ 430 milhões anunciados como aporte emergencial, a maior parte em financiamentos, não serão suficientes para aplacar as dificuldades dos pequenos agricultores — avaliação que foi externada pelo presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, argumentou que políticas de médio e longo prazo, como mudanças no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), ainda serão avaliadas pelo governo federal:
— Nós viemos anunciar o que é emergencial e construir um grupo de trabalho para discutir as questões mais importantes que não sejam tratadas hoje.
Parte das cobranças também foi direcionada ao governador Eduardo Leite, que anunciou na semana passada um plano para mitigar os prejuízos da estiagem. Leite, a propósito, parecia um estranho no ninho no palco do evento, rodeado por petistas, mas foi saudado e aplaudido pelos integrantes dos movimentos sociais.
Em sua vez de discursar, o governador frisou que a União terá de ampliar a contribuição para resolver o problema da estiagem, mas ressaltou a relevância da reabertura de um ambiente de diálogo junto ao governo federal. Ao final, pediu que os ministros Paulo Pimenta, Paulo Teixeira e Wellington Dias se levantassem para que fosse produzida uma imagem de unidade:
— Não tenho dúvida de que, quando eu postar essa foto nas redes sociais, não faltará quem critique dizendo "se juntou com aquele, se juntou com esses". E quero dizer com clareza: me juntei porque o povo brasileiro os colocou com legitimidade na posição em que estão, assim como me colocou na minha posição.
Na sequência, o ministro do Desenvolvimento Social chamou Leite e o prefeito de Hulha Negra, Renato Machado (PP), que havia sido alvo de protestos, para fazer um gesto semelhante:
— A eleição acabou. Agora nós temos obrigações — salientou Dias.
No início do dia, Leite estava decidido a não comparecer ao evento em Hulha Negra por ter sido convidado oficialmente apenas na véspera.
A assessoria do governador informou que ele soube do ato pela imprensa, sem um aviso oficial do Palácio do Planalto, e que foi chamado a participar somente após tomar a iniciativa de contatar os ministros que viriam ao Estado. Por isso, iria cumprir agendas em Porto Alegre e enviar um grupo de secretários ao ato.
Ao longo da manhã, entretanto, o governador mudou de ideia e resolveu participar.
Aliás
Aliados e assessores do governador Eduardo Leite ficaram surpresos com a receptividade com a qual ele foi recebido em Hulha Negra. Além dos aplausos ao discurso, houve fila de integrantes do Movimento dos Sem Terra para tirar fotografias com o tucano no fim do evento.
Visita a Lula
Por sugestão do ministro Paulo Teixeira, o governador Eduardo Leite deverá solicitar uma audiência com o presidente Lula para entregar pessoalmente as demandas do Rio Grande do Sul para aplacar os efeitos da estiagem.
Na semana passada, Leite enviou uma carta a Lula solicitando a ajuda federal.
Assunto vivo
A discussão sobre o combate à estiagem segue na pauta do governo estadual e será tema da próxima reunião entre Eduardo Leite e os deputados da base aliada. O encontro está previsto para a próxima segunda-feira (27), às 17h, no Galpão Crioulo do Palácio Piratini.
O projeto de reajuste do piso do magistério também deverá ser discutido.