O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores que assumem os cargos neste domingo (1º) terão o primeiro choque de realidade já na segunda-feira (2). Na campanha, tudo parecia fácil. Agora, as promessas precisam caber no orçamento e o eleitor quer medidas imediatas para o cumprimento de algumas, sobretudo as que tratam do combate à miséria. Como se dizia na própria campanha, quem tem fome tem pressa.
O desafio de adequar a agenda de atenção aos brasileiros mais pobres não é o único nem o maior de Lula no início deste terceiro governo. A grande tarefa que o presidente tem pela frente é reconciliar um país dividido não só pela eleição, mas pelos quatro anos de governo Jair Bolsonaro.
O presidente sabe que não foi eleito pelos que o seguem incondicionalmente, mas por boa parcela da população que não queria mais saber dos desmandos e da truculência de Bolsonaro. Sem o voto desses eleitores não-petistas, o presidente que mandou às favas princípios civilizatórios elementares estaria se preparando para a segunda posse, e não para uma temporada de autoexílio na Flórida.
Os que votaram em Lula por falta de opção esperam dele uma gestão sem corrupção, já que essa foi a grande chaga de seus governos anteriores. Garantir que todos os 37 ministros e os milhares de ocupantes de cargos no segundo e terceiro escalões tratem o dinheiro público com o devido respeito exige vigilância permanente, e para isso os órgãos de controle terão de ser mais atuantes do que nunca.
No Rio Grande do Sul, que experimenta pela primeira vez a reeleição de um governador, Eduardo Leite terá de mostrar que pode fazer um governo melhor do que o primeiro. “Melhor” é subjetivo, dado que os interesses de um grupo não são os da sociedade inteira, mas ele sabe o que deixou de fazer no primeiro mandato. Pode cometer erros novos, mas não tem o direito de repetir erros antigos, nem pode atribuir os problemas à herança recebida do antecessor.
De Leite se espera que, tendo dinheiro para investir, consiga destravar as obras, sobretudo nas escolas. Não há hipótese de atingir o objetivo por ele anunciado, de melhorar a qualidade da educação, sem resolver os problemas de estrutura das escolas. Agilidade será a palavra-chave neste segundo governo. Porque os gaúchos precisam, e não porque Leite tem ambições políticas maiores, que serão esmagadas se ele fracassar como gestor do Estado que lhe deu uma segunda oportunidade.
Aliás
Com Ranolfo Vieira Júnior no BRDE e Cláudio Gastal no Badesul, dois homens que conhecem a fundo as necessidades do setor produtivo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite compensa eventuais deficiências de secretários escolhidos apenas pelo critério político.