Um dos gaúchos mais próximos do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado federal Paulo Pimenta (PT) recebeu uma missão especial como integrante da equipe de transição: reconstruir as pontes rompidas com o empresariado do Rio Grande do Sul.
Consciente de que foi eleito sem o apoio das federações empresariais e de seus líderes, que fizeram campanha aberta para Jair Bolsonaro (PL), Lula quer aparar arestas nas relações e dialogar com todos os setores.
A primeira tarefa de Pimenta nas conversas com líderes empresariais é levantar as demandas capazes de unir o Rio Grande do Sul:
— Nos nossos primeiros governos tínhamos a BR-101, a BR-116, a Rodovia do Parque, a segunda ponte do Guaíba e outras obras que uniam os gaúchos. Fizemos algumas, outras seguem inconclusas até agora e precisamos saber o que é prioridade.
A conclusão da duplicação da BR-116 Sul é uma prioridade quase automática, por ser a mais avançada, mas os recursos previstos no orçamento de 2023 encaminhado ao Congresso por Bolsonaro não contemplam obras de infraestrutura no Estado.
Como não há verba para concluir as obras da BR-116 na região do Vale do Sinos, hoje um dos principais gargalos logísticos do Estado, o governador Eduardo Leite (PSDB) chegou a sugerir que o Estado assuma essa parte em troca de a União se comprometer com a extensão da BR-448, a Rodovia do Parque, até Portão.
Há decisões estratégicas que precisam ser tomadas. A proposta de Bolsonaro era entregar à iniciativa privada a BR-116 entre Porto Alegre e Cristal e BR-290 até o entroncamento com a BR-392 (Caçapava do Sul). Em troca da cobrança de pedágio, o vencedor da licitação assumiria a conclusão das alças de acesso à ponte do Guaíba, o término da duplicação da BR-116 e a duplicação da BR-290.
O processo está em fase de audiências públicas, mas os emissários do futuro governo ainda não disseram se a intenção é manter a concessão ou executar a obra com os escassos recursos públicos disponíveis.
Pimenta diz que há interesse do governo em destravar a infraestrutura com investimentos, não necessariamente públicos, em rodovias e ferrovias, para reduzir os custos de escoamento da produção, mas quer ouvir os setores produtivos.
Essa agenda de investimentos deve incluir a retomada do Polo Naval de Rio Grande, que teve impulso nos governos petistas e, depois da Operação Lava-Jato e da quebra das principais empreiteiras, virou um esqueleto.
O futuro do Polo Naval depende de uma decisão estratégica do futuro governo sobre a política de construção de plataformas de petróleo e não deve ter impacto no primeiro ano de governo.
ALIÁS
Cotado para ser ministro das Comunicações, Paulo Pimenta já iniciou os contatos com empresários que se mostram dispostos a conversar, mesmo não sendo afinados com Lula. Um deles é Roberto Argenta, maior produtor gaúcho de calçados, que concorreu a governador em outubro e foi um duro crítico do PT. Pimenta definiu a conversa como "muito produtiva".