Último confronto do primeiro turno, o debate na RBS TV mostrou o que será o segundo turno se as urnas confirmarem Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL) como finalistas. Instalados em púlpitos lado a lado, por força do sorteio, os dois deixaram claro no olhar e nos gestos que não havia espaço para tratamento amistoso. Sabendo que seria o primeiro a perguntar e que poderia escolher o adversário, Onyx leu um enunciado com vários problemas da gestão de Leite e perguntou se ele se considerava um bom gestor.
Tenso, o ex-governador disse que estranhava que Onyx, com 30 anos de vida pública, tivesse de ler uma pergunta preparada pela assessoria. Estava instalado o clima de tensão entre os dois que marcaria todo o programa. Leite chamou de armação a denúncia feita pelo candidato Felipe Pedri, sobre o uso de recursos do Fundeb para pagar professores aposentados, e disse que a prefeitura de Porto Alegre, cujo vice é do PL, faz o mesmo.
Edegar Pretto (PT), que na pesquisa do Ipec está em terceiro lugar e sonha chegar ao segundo turno na carona do ex-presidente Lula, usou todas as oportunidades possíveis para questionar Onyx, aproveitando para fustigar tanto o ex-ministro como o ex-governador. Edegar e Onyx usaram o debate para se associar aos candidatos de seus partidos, o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, praticamente sem apresentar propostas concretas para governar o Estado.
O candidato do PT chegou a prometer baixar os preços nos supermercados e acabar com o endividamento das famílias se Lula e ele forem eleitos. Onyx pintou uma imagem irreal do governo Bolsonaro e chegou a dizer que o número de feminicídios diminuiu, o que não bate com as estatísticas.
Leite foi alvo de todos os candidatos, com exceção de Vicente Bogo (PSB), que não tem vocação para o ataque e até expressou compreensão em relação às dificuldades do Estado. Manteve-se na defensiva o tempo todo e evitou dirigir perguntas a Onyx e Edegar.
As críticas mais fortes vieram de Onyx, Edegar e do ex-deputado Vieira da Cunha (PDT), um dos mais articulados. Mesmo que sua retórica não tenha conseguido se transformar em intenção de voto nas pesquisas, Vieira manteve a estratégia adotada desde o primeiro debate, de não dar trégua a Leite, especialmente quando o tema é educação, seja pelo corte nas vagas de turno integral, seja pelo mau desempenho dos alunos, seja pela não aplicação de 35% do orçamento na educação, como prevê a Constituição Estadual.
No debate ficou claro que aos candidatos sobram ideias a respeito do que precisa ser feito, mas a maioria não se preocupa com o “como”. E apresentam soluções simplistas para problemas complexos. Como se o orçamento fosse elástico, os concorrentes — em especial os que, de acordo com as pesquisas, não têm chances de chegar ao segundo turno — prometeram mundos e fundos sem se preocupar com a origem do dinheiro.
Os candidatos Luis Carlos Heinze (PP) e Roberto Argenta (PSC) formaram uma dupla à parte, trocando perguntas sempre que possível e batendo na mesma tecla. Argenta, que se diz o governador do emprego, falando como se a geração de postos de trabalho dependesse do governador. As respostas de Heinze ficaram prejudicadas pela dicção, já que sempre que tenta falar rápido para responder dentro do tempo o candidato engole sílabas e as frases ficam parcialmente incompreensíveis.
O fato de não ter sido formulado nenhum pedido de direito de resposta é o sinal mais eloquente de que o debate, mesmo duro, ficou dentro dos limites da crítica política, sem ataques pessoais.