Convencida de que não teria como crescer no PSDB, partido ao qual estava filiada desde 2016, a prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt, anunciou no fim de semana sua decisão de deixar o ninho tucano. Em carta ao presidente em exercício do partido, Artur Lemos, a prefeita disse que, depois de seis anos, sente que é o momento de mudar a perspectiva de sua atuação política.
Esse motivo impreciso é um jeito tucano de dizer que não vê espaço para crescer no PSDB. O motivo, embora a prefeita não diga, tem nome e sobrenome: Lucas Redecker, o deputado federal que ocupa a presidência, mas está licenciado para cuidar da campanha à reeleição. A amigos, a prefeita confidenciou que se sentia boicotada por Redecker.
O desconforto não é de hoje. Em 2021, quando ainda se acreditava que Eduardo Leite não seria candidato à reeleição, Fátima tentou se credenciar como alternativa tanto para concorrer a governadora quanto para ser a vice em eventual aliança com o MDB.
Na Expointer do ano passado, chegou a ser convidada por Alceu Moreira para ser sua companheira de chapa. O PSDB não demonstrou interesse. Tanto que, embora tenha sido reeleita com facilidade em 2020, seu nome nem sequer foi testado nas pesquisas que indicaram a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, como o nome mais viável depois de Leite.
Sentindo-se escanteada por seu próprio partido, apesar de ser a primeira mulher a se eleger prefeita de Novo Hamburgo, Fátima chegou a flertar com o PSD. Foi convidada pelo presidente nacional, Gilberto Kassab, mas não recebeu garantia de que seria candidata a um cargo majoritário. No prazo limite da desincompatibilização e da troca de partido, decidiu continuar no PSDB e na prefeitura, mas o desconforto continuou.
Na convenção do PSDB, dia 31 de julho, Fátima já não compareceu. Ao contrário do prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, que justificou a ausência com uma viagem familiar à Argentina, Fátima disse à coluna que não foi porque estava “com o pé mais fora do PSDB do que dentro”. Era o sinal mais evidente de que a desfiliação seria questão de dias.
Agora, a prefeita tem convites do PSB e do MDB, mas decidiu ficar sem partido por prazo indeterminado:
— Sigo minha trajetória na política, neste momento como prefeita, sempre pautada pela sensibilidade social, pela honestidade e pela incansável busca pela excelência e inovação na gestão. Independentemente de partido e de função que eu venha a desempenhar no futuro, seguirei contribuindo com a minha cidade, com o Rio Grande do Sul e com o país. Como costumo dizer, sou uma mulher de desafios.
Redecker diz que jamais boicotou prefeita
Presidente licenciado do PSDB, o deputado Lucas Redecker escreveu à coluna depois que o texto sobre a saída da prefeita Fátima Daudt do partido foi publicado, para expressar sua discordância em relação ao suposto boicote. Confira a íntegra da mensagem de Redecker:
"Em 2016, eu pessoalmente convidei a Fátima para concorrer a prefeita pelo PSDB, me dedicando muito como um dos coordenadores da campanha. Estive ao lado dela também apoiando na reeleição e nesses 3 anos e meio de mandato como deputado federal fui o parlamentar que mais enviou recursos na história de Novo Hamburgo, somando quase R$ 10 milhões. Destes, inclusive uma emenda individual de quase R$ 6 milhões para viabilizar a construção do Anexo II do Hospital Municipal, valor já depositado no caixa da Prefeitura. Tudo isso durante o mandato da Fátima. Ou seja, sempre trabalhando ao lado da Administração e buscando melhorias para Novo Hamburgo. Isso demonstra que não há boicote algum. Mesmo assim, agradeço a prefeita pela liderança e por ter topado o desafio de concorrer lá em 2016 quando conversamos e eu a convidei. Independente de partido político, ela poderá continuar contando comigo, com o meu esforço e trabalho para buscar o melhor à nossa cidade, pois temos esse mesmo compromisso. Acima de qualquer desafio, deve estar sempre a nossa população."