A afirmação do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), de que poderá ser vice de Simone Tebet (MDB), feita em entrevista à Rádio Eldorado, ganhou manchetes, mas, a rigor, não contém nenhuma novidade. Ao anunciar a renúncia, no dia 28 de março, Leite havia dito que saía do governo para “abrir mais uma possibilidade”, mas poderia ser apenas um soldado na construção da terceira via.
Soldados cumprem missões e ser vice poderia se enquadrar nessa categoria. Seu desejo, de todos conhecido, é ser candidato a presidente, o que só ocorrerá se João Doria desistir. Enquanto Doria seguir candidato, as conversas de Leite com Simone, Sergio Moro e dirigentes dos partidos que gostariam de tê-lo na disputa seguem no metaverso.
É possível Leite ser candidato a presidente ou a vice? É, mas isso passa pela implosão da candidatura de Doria. Tendo optado por continuar no PSDB, Leite só pode concorrer ao Planalto, como cabeça de chapa ou vice, se Doria desistir ou se o partido abandoná-lo, o que não ocorreria sem desgaste. Se o processo demorar demais, a construção dessa alternativa torna-se inviável, porque cada dia perdido é um dia mais em que se cristalizam os apoios ao ex-presidente Lula (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Simone Tebet na cabeça é o desejo de uma ala do MDB. Há setores comprometidos com Lula e outros com Bolsonaro. Simone já foi traída quando tentou disputar a presidência do Senado. A senadora tem currículo, facilidade de comunicação, ideias que param em pé e capacidade de montar uma boa equipe, mas o fato de oscilar entre 1% e 2% nas pesquisas desestimula até os companheiros do MDB. Se o critério for a pesquisa, terá de ser qualitativa, porque os percentuais de Leite não são muito diferentes.
Fora do governo, Leite pode, em tese, ser candidato a governador, ao Senado, a deputado federal e até a estadual. Nenhuma dessas opções está no seu radar. Governador, porque seria estranho pedir voto aos gaúchos tendo renunciado nove meses antes do término do mandato. Senador, porque é eleição de uma vaga só e já prometeu apoio a Ana Amélia Lemos (PSD). Deputado federal seria uma possibilidade de manter a vitrine de um mandato para se credenciar na disputa presidencial de 2026. Deputado estadual está fora de cogitação, mas impedimento não há.