Faltando seis meses para a eleição, a pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta quinta-feira (24) mostra que é precipitado concluir que o ex-presidente Lula (PT) tem a vitória assegurada, que o presidente Jair Bolsonaro está fadado à derrota ou que a terceira via morreu antes de nascer. A história de eleições passadas mostra que os grandes movimentos ocorrem quando a campanha começa.
Os números de 180 dias antes, quando o eleitor ainda não está com o foco na eleição, falam mais de passado do que de futuro. Refletem a memória do eleitor e, por isso, nada mais natural do que Lula e Bolsonaro aparecerem bem à frente dos demais, até porque boa parte das intenções de voto em um deles é resultado da rejeição ao outro.
A principal novidade da pesquisa Datafolha é a recuperação de terreno por parte de Bolsonaro. Mesmo que em alguns cenários fique na margem de erro, o certo é que em todas as simulações ela se repete — da queda na reprovação do governo à redução da vantagem dos adversários no segundo turno. Bolsonaro está longe de uma situação confortável, mas a pesquisa mostra que o “já ganhou” alardeado por parte dos petistas é prematuro.
Mais importante do que fazer futurologia é tentar entender o que levou Bolsonaro a crescer. A pesquisa foi feita logo após o anúncio de medidas populares: liberação de uma parcela de até R$ 1 mil do FGTS, pagamento antecipado do 13º dos aposentados do INSS, redução do IPI de alguns produtos e discussão sobre medidas para conter o aumento dos combustíveis, que disparou com o aumento do preço do barril do petróleo.
A pesquisa ainda não captou os efeitos das denúncias de tráfico de influência no Ministério da Educação. Nesta quinta, Bolsonaro disse que não coloca apenas a mão no fogo por Milton Ribeiro, mas a cara toda. Uma gravação divulgada pela Folha de S.Paulo mostra o ministro dizendo que favorece prefeitos indicados por pastores ao repassar verbas federais. Coincidência ou não, a pesquisa mostra que o presidente recuperou terreno entre os eleitores evangélicos.
O Datafolha é desanimador para os candidatos da terceira via em geral, que não conseguem sair do lugar, e devastador para João Doria, o único que nas simulações de segundo turno está empatado com Bolsonaro — todos os outros testados levam vantagem fora da margem de erro. Candidato de um partido que venceu duas eleições presidenciais no primeiro turno (1994 e 1998) e chegou ao segundo turno nas quatro seguintes, Doria tem desempenho de candidato nanico e, por isso, perdeu o apoio dos líderes do partido, que tentam convencê-lo a desistir para dar lugar a Eduardo Leite, a quem derrotou na prévia de novembro.
Aliás
No momento fora da disputa, Eduardo Leite não está em situação melhor do que a de João Doria, mas por ter menor rejeição, acredita que no decorrer da campanha poderia herdar os votos de quem hoje escolhe Lula para evitar a reeleição de Bolsonaro e vice-versa.
Lado a lado
O congresso de verão da Famurs, que está sendo realizado em Torres, foi a primeira oportunidade para comparar o desempenho de seis pré-candidatos a governador. Três partidos que não têm nomes definidos mandaram representantes que não estarão na lista de concorrentes: o MDB escalou o deputado Vilmar Zanchin, o União Brasil compareceu com seu presidente, Luiz Carlos Busato, e o PDT foi representado pelo presidente Ciro Simoni.
Os seis pré-candidatos - Beto Albuquerque (PSB), Edegar Pretto (PT), Luis Carlos Heinze (PP), Marco Della Nina (Patriota), Ranolfo Vieira Júnior e Roberto Argenta (PSC) - deram uma visão panorâmica do que pretendem fazer e, no espírito da proposta da Famurs, evitaram confronto e ataques.