A multiplicidade de vozes exibidas no Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (3), apresentado diretamente de Santo Ângelo e Tupanciretã, deu alma às estatísticas sobre as perdas nas lavouras de soja e milho. Relatos de produtores de leite que temem a morte dos seus animais por falta de alimento e anteveem a redução da produção reproduziram uma preocupação coletiva nas regiões afetadas pela falta de chuva.
Açudes secos, bolsos vazios e contas para pagar. Incerteza sobre como proceder para acionar o seguro agrícola, se as lavouras não poderão ser colhidas, outras foram plantadas e a soja nem nasceu.
Seguimos em busca de respostas para as perguntas que são também de outras regiões e de providências das autoridades que estão sendo demandadas por medidas emergenciais. A pergunta que mais se faz é: o que fazer para evitar que o flagelo se repita, já que ninguém tem o poder de fazer chover?
Parte da resposta para essa pergunta seminal está com os próprios produtores. A coluna escolheu o médico Vitor Hugo Boff, produtor rural em Santo Ângelo e vice-presidente da cooperativa de crédito Unicred, para aconselhar seus pares a buscarem soluções para além dos caminhos mais óbvios. Diz o doutor Boff, ilustrando sua afirmação com um pequeno recorte de Zero Hora:
— Se olhar a ZH de 27 de janeiro de 40 anos atrás, está estampado na manchete que aconteceu exatamente o que estamos vivenciando agora. Essa seca de 1982 eu presenciei e estou muito bem lembrado. De lá para cá, o que nós fizemos? Absolutamente nada. Irrigação é um caminho, minimiza o problema, mas não é a solução total. O que temos hoje é um Estado que está prestes a morrer de fome e de sede. Temos uma situação de emergência que precisa ser resolvida, mas precisamos nos reunir cooperativamente. O indivíduo sozinho não vai a lugar nenhum. Definitivamente, precisamos aprender a guardar água. É a primeira coisa a ser feita e não demanda investimento grande.
Boff continua:
— Temos aqui uma média de 1.750mm de chuva por ano. Há regiões da Espanha que têm menos de 150mm e sobrevivem. Temos de aprender com outros países. Eu tenho uma propriedade em que, juntando água dos telhados, armazenei 40 mil litros. Guardei de graça, caiu do céu. Meus animais não vão morrer de sede. Não dá para irrigar uma lavoura, mas dá para molhar uma horta. Nós não podemos esperar tudo do governo. Não virá. Temos que agir por conta própria de uma forma cooperativa. Como disse Theodor Amstad, em 1900, quando fundou a primeira cooperativa de crédito em Nova Petrópolis, se tiver um caminho e uma pedra muito grande, você não conseguirá passar, mas se vocês se unirem para retirar a pedra, todos conseguirão passar.
Aliás
Até agora, os governos estadual e federal não anunciaram medidas concretas para socorrer os pequenos agricultores ou os grandes produtores. Em Brasília, a promessa é de que nos próximos 15 dias sairão respostas às demandas apresentadas à ministra Tereza Cristina.