Dois dos municípios mais afetados pela estiagem que castiga o Estado, Santo Ângelo, no Noroeste, e Tupanciretã, na Região Central, sofrem no aguardo de chuva mais consistente e regular. Enquanto isso não ocorre, contabilizam os estragos causados pela falta de água na agropecuária, motor-chefe da economia nessas duas cidades.
Em Tupanciretã, um dos maiores produtores de soja do Estado, as perdas nessa cultura podem chegar na casa dos 70% em algumas regiões do município. Em Santo Ângelo e em municípios da região, a soma dos prejuízos deve ultrapassar o R$ 1 bilhão, segundo sindicato rural.
O Gaúcha Atualidade será apresentado ao vivo nesta quinta-feira (3) desses dois municípios e irá debater soluções aos problemas enfrentados. Em Tupanciretã, Andressa Xavier e Gisele Loeblein conduzem a atração na praça no centro do município. Já em Santo Ângelo, Rosane de Oliveira marca presença na sede do sindicato rural da cidade. Na sexta-feira (4), o programa migra para Cachoeira do Sul, na Região Central, e Passo Fundo, no Norte.
O chefe do escritório da Emater em Tupanciretã, Gilberto Welzel, afirma que as perdas no milho grão sequeiro e milho silagem estão em torno de 80% a 100%. Na soja, a quebra pode chegar aos 70%. Welzel destaca que a situação fica pior a cada dia que passa sem chuva regular e que se espraie pela região, algo que não ocorre desde o fim do ano passado.
— A chuva que a gente pode considerar boa, em todo o município, aconteceu na primeira quinzena de outubro. Depois, teve alguns intervalos com algumas pancadas, mas tudo chuva de 15, 20, 25 milímetros. E muito localizada. Tem um pessoal que começou a plantar em outubro e, depois que parou de chover, não conseguiu terminar o plantio — informa o representante da Emater.
Como não existe uma solução direta para as lavouras a não ser a volta da chuva, a prefeitura de Tupanciretã auxilia os moradores e produtores com ações emergenciais. O prefeito do município, Gustavo Terra, afirma que o Executivo abastece cerca de 30 famílias com água potável duas vezes por semana, fez mais de 250 açudes e bebedouros, alguns abastecidos pelo poder público, e oferece dois caminhões para transporte de silagem e ração para ajudar os produtores no frete.
Terra destaca que, além das perdas nas lavouras de milho e soja, a estiagem também prejudica a pecuária:
— Na pecuária, a perda é de difícil mensuração, mas nós temos pelo estresse calórico e pela deficiência nutricional dos animais. Existe uma redução significativa do número de cios tanto de bovinos quanto de equinos. Isso vai refletir, no ano que vem, na taxa de natalidade e consequentemente na taxa de abate daqui a três anos. Talvez isso influencie no preço da carne no Rio Grande do Sul — alerta o prefeito.
Terra afirma que a estiagem severa que afeta o Estado atualmente intensifica ainda mais a deficiência na reposição do lençol freático e dos reservatórios, registrada em outros anos.
Em Santo Ângelo, estiagem já começa afetar oferta e preço de itens
Levantamento do Sindicato Rural de Santo Ângelo aponta prejuízo de cerca de R$ 837 milhões na produção de soja e de R$ 74 milhões no milho na região. Somando as perdas na pecuária de corte e de leite, essa cifra pode ultrapassar o R$ 1 bilhão, segundo o presidente da entidade Laurindo Nikititz. O balanço leva em conta, além de Santo Ângelo, os municípios de Entre-Ijuís, Vitória das Missões e Eugênio de Castro.
— O que estava afetando o interior, a área rural, há poucos dias, já começou a bater no pessoal urbano, nas cidades, com a falta de hortifrutigranjeiros nos mercados. Isso está afetando os preços. Além de não ter muito produto, a qualidade é muito baixa. E vai chegar no feijão, no arroz e em outros derivados que estão na cesta básica — explica Nikititz.
Em ambos os municípios, produtores e o poder público aguardam ações mais contundentes do governo federal no âmbito de auxílio.