O Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (3) foi transmitido diretamente de Santo Ângelo, no Noroeste, e de Tupanciretã, na Região Central, dois dos municípios mais castigados pela estiagem que não dá trégua no Estado. Durante o programa, autoridades e representantes da agricultura relataram o cenário da falta de água e as ações que tentam amenizar os efeitos do problema.
Em Tupanciretã, Andressa Xavier e Gisele Loeblein conduziram a atração na praça do centro do município. Já em Santo Ângelo, Rosane de Oliveira marcou presença na sede do sindicato rural da cidade.
Na sexta-feira (4), o programa migra para Cachoeira do Sul, na Região Central, e Passo Fundo, no Norte.
Nesta quinta, o presidente da Cooperativa Agrícola Tupanciretã (Agropan), Juarez Bay Nascimento, afirmou que a expectativa de produtividade da soja no município é uma das menores de toda a história e terá reflexos na economia regional e do Estado. A quantidade de sacas por hectare deve cair de uma média de 50 para 10, segundo ele. O dirigente destacou ainda que os efeitos da estiagem devem seguir pelos próximos anos.
O presidente da Agropan citou as dificuldades de seguir em frente com uma lavoura de alto custo diante dos prejuízos. Nesse sentido, ele estima uma volta à normalidade, se as coisas andarem bem, em cinco anos.
— É preocupante como o produtor da nossa região vai conseguir passar o ano, viver o ano de 2022. Depois, a preocupação, a incógnita maior ainda é como formar as lavouras nos próximos anos. A dimensão da quebra nesse ano seguramente descapitalizou muito o produtor — destacou Nascimento.
O chefe do escritório da Emater em Tupanciretã, Gilberto Welzel, afirmou que as perdas no milho grão sequeiro e milho silagem estão em torno de 80% a 100%. Na soja, a quebra pode chegar aos 70%.
Welzel destacou que a situação fica pior a cada dia que passa sem chuva regular e que se espraia pela região, algo que ocorre desde o fim do ano passado. Além dos efeitos nas lavouras, a estiagem também afeta a pecuária de corte e de leite, pois dificulta o desenvolvimento dos animais.
— Tem gente que está perdendo não é 50% e nem 40%. É 100%. Tem gente que parou de tirar leite. Não tem comida e nem água. Não tem o que fazer. Larga as vacas e reza — relatou o produtor de leite Fernando Almeida.
O prefeito do município, Gustavo Terra, afirmou que o Executivo abastece cerca de 30 famílias com água potável duas vezes por semana, fez mais de 250 açudes e bebedouros, alguns abastecidos pelo poder público, e oferece dois caminhões para transporte de silagem e ração para ajudar os produtores no frete.
Santo Ângelo
Levantamento do Sindicato Rural de Santo Ângelo aponta prejuízo de cerca de R$ 837 milhões na produção de soja e de R$ 74 milhões no milho na região. Somando as perdas na pecuária de corte e de leite, essa cifra pode ultrapassar o R$ 1,1 bilhão, segundo o presidente da entidade, Laurindo Nikititz. O balanço leva em conta, além de Santo Ângelo, os municípios de Entre-Ijuís, Vitória das Missões e Eugênio de Castro.
— Uma situação dessas nós nunca tínhamos passado, com estiagem tão prolongada e efeito tão danoso para a economia do setor agrícola — destacou Nikititz.
O prefeito de Santo Ângelo, Jacques Barbosa, informou que, apenas no município, os prejuízos na agricultura — soja e milho — e na pecuária ultrapassam os R$ 350 milhões. O chefe do Executivo destacou os efeitos dessa quebra na economia do Estado.
— A gente sabe do setor primário para o PIB do nosso Estado e do nosso país. Isso também vai acarretar em outros setores. Esse valor de R$ 350 milhões de prejuízo não contabiliza outras culturas, como feijão, batata e mandioca — salientou.
Barbosa citou que as secretarias de Assistência Social, Desenvolvimento Urbano e de Desenvolvimento Rural estão unidas para auxiliar os produtores. Atualmente, são contabilizados 150 pedidos protocolados junto a essas pastas. A prefeitura conta com duas equipes no apoio aos produtores, principalmente com intervenções para bebedouros para animais e na recuperação de açudes. O prefeito também destacou que aguarda auxílio do governo estadual no combate à estiagem.
O produtor Lourenço Bittencourt, que trabalha com irrigação em suas lavouras, explicou os benefícios dessa tecnologia:
— A irrigação é a solução. Tanto em anos normais para você ampliar a sua produção e agregar mais valor sobre o teu hectare plantado, bem como em anos de períodos de estiagem, onde ela faz aquele complemento de chuva. Ela não substitui a chuva, porque o clima e o resultado de uma chuva bem distribuída não têm irrigação que faça igual.
Bittencourt destacou que o armazenamento de água esbarra em legislações sobre áreas que podem ser utilizadas para reservatórios. Isso acaba gerando dificuldade para estocar água.