Depois de perder a prévia do PSDB para João Doria, o governador Eduardo Leite deixou de lado as propostas que formavam a espinha dorsal do seu plano de governo, com contribuições de especialistas de diferentes áreas que trabalharam como voluntários. Convidado por Gilberto Kassab para concorrer a presidente pelo PSD, Leite se impôs um período de silêncio, alegando que precisa refletir sobre a proposta, mas pediu a um dos seus mais fiéis colaboradores que resgatasse o plano para avaliar se precisa de atualização.
Essa foi a senha para que até os amigos mais céticos passassem a acreditar que, embora não diga, a decisão já está tomada. Nas conversas com interlocutores que tentam convencê-lo a disputar a reeleição, Leite diz que não se sente motivado para concorrer outra vez a governador e que o desafio de um projeto nacional é mais estimulante.
Não se espere um anúncio de candidatura antes de 15 de março. O tempo de Leite para explicitar o que vai fazer é a segunda quinzena do mês. Os próximos dias serão dedicados a conversas com políticos, empresários, amigos e conselheiros. Antes de qualquer decisão, quer ter certeza de duas coisas: que o convite de Kassab é pra valer e que terá estrutura para uma campanha minimamente competitiva.
Amigos tucanos têm alertado para o risco de ele estar sendo usado por Kassab, que poderia abandoná-lo pelo caminho para se unir ao ex-presidente Lula. Líderes do PSD no Rio Grande do Sul dizem que isso é impossível. Primeiro, porque entre os filiados e candidatos do PSD a deputado estadual e federal há muita gente de direita, que ficaria desconfortável no barco de Lula. Segundo, porque acreditam que há, de fato, espaço para um candidato de terceira via, e que Leite pode ser a novidade.
O convite de Kassab para ser candidato a presidente não foi feito no dia em que esteve no Palácio Piratini, em 11 de janeiro. Naquele dia, Kassab apenas o convidou para se filiar ao PSD. Argumentou que, com Doria como candidato, o PSDB vai encolher na próxima eleição e que o PSD seria mais promissor. Leite disse então que não gostaria de deixar o PSDB, seu único partido em 36 anos de vida.
O assunto ficou congelado por 20 dias, até que em um final de tarde Leite estava saindo do Centro Administrativo para retornar ao Piratini, onde mora, e o telefone tocou. Era Kassab dizendo mais ou menos assim:
— Gravei uma entrevista com a jornalista Andréia Sadi e estou avisando você para que não seja surpreendido. Citei seu nome como possível candidato a presidente. Quero que saiba por mim e não quando o programa for ao ar.
O governador agradeceu pela gentileza e desligou. No dia 2 de fevereiro, às 10h33min, Sadi postou em seu blog uma nota com o título "Se Pacheco recuar, Kassab fala em Eduardo Leite como nome da terceira via". Depois que a entrevista foi ao ar na Globo News, às 23h30min, o mundo político entrou em polvorosa.
Diante da repercussão positiva e do desinteresse do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de concorrer, Kassab convidou Leite para uma conversa em sua casa em São Paulo, na segunda-feira passada. O governador foi sozinho e Kassab levou o prefeito do Rio, Eduardo Paes, para ajudá-lo no convencimento.
Leite saiu do encontro "mexido". Era o cavalo encilhado passando pela segunda vez na sua porta. Na primeira, tentara montar e fora empurrado por Doria. Naquele dia e nos subsequentes, o WhatsApp não parou: de um lado, amigos empolgados com a possibilidade, de outro, amigos alertando que era fria e que seria mais cômodo concorrer a governador.
Amigos divididos
Leite não é adepto da zona de conforto. Quando concorreu a prefeito de Pelotas, ouviu que era muito jovem e deveria esperar mais quatro anos. Concorreu e venceu. Quando se lançou candidato a governador, ouviu que era muito jovem e que deveria esperar mais quatro anos. Concorreu e venceu aos 33 anos. Agora, parte dos amigos diz que a eleição está decidida, que o segundo turno, se houver, será entre Lula e Bolsonaro. Outros o encorajam dizendo que, mesmo perdendo, a visibilidade desta campanha pode ser útil para 2026.
A agenda de Leite antes do anúncio tem uma viagem para os Estados Unidos, de 7 a 14 de março, talvez a última como governador. É lá que ele completará 37 anos no dia 10. Na volta, terá duas semanas para decidir se renuncia para concorrer ou se segue no governo e espera 2026, quando terá 41. A um dos seus interlocutores, Leite disse que não sabe qual será o quadro em 2026 e que hoje está inclinado a aceitar o desafio.
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