No momento em que perdeu a prévia presidencial do PSDB para João Doria, o governador Eduardo Leite estava decidido a não ser candidato a nada neste ano. Descartava a reeleição, por ter prometido desde a campanha de 2018 que não disputaria o segundo mandato. Adiara o projeto de concorrer a presidente por outro partido, para “não parecer um mau perdedor”. Vocacionado para o Executivo, não se sentia animado para tentar uma vaga no Senado ou na Câmara.
Essa certeza vem sendo posta à prova nos últimos dias por dois movimentos — um silencioso, de bastidores, e outro explícito, desencadeado por uma entrevista do presidente do PSD, Gilberto Kassab, citando-o como possível candidato a presidente. O movimento discreto é para tentar convencer o governador a fazer um cavalo-de-pau, esquecer o que disse quando montou a ampla aliança que sustenta seu governo e aceitar concorrer à reeleição.
Os defensores da candidatura à reeleição ampliaram a pressão nos últimos dias diante da divisão do MDB, parceiro preferencial do PSDB para uma aliança. Temendo que a demora do MDB em tomar uma decisão acabe prejudicando a continuidade do atual projeto, os tucanos tentam pavimentar um caminho próprio. O “sonho do consumo” é Leite concorrer à reeleição, com o apoio de PSD, União Brasil e outros integrantes do governo que queiram continuar na aliança. O plano B é a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, ser candidata.
A simples cogitação dessa hipótese empolgou empresários que conversam regularmente com o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha, um dos artífices da candidatura de Leite na prévia do PSDB e defensor da tese de que o Rio Grande do Sul não pode se dar ao luxo de abrir mão de um talento como o governador.
O prefeito de Passo Fundo, Pedro Almeida (PSD), vibra com essa possibilidade. Como secretário de seu antecessor, Luciano Azevedo, Almeida acompanhou a penúria enfrentada pelos municípios nos últimos anos e diz que é preciso reconhecer o sucesso do governo Leite.
— Há quanto tempo nós não tínhamos investimentos em cultura, estradas, obras de infraestrutura? As dívidas da saúde foram quitadas e hoje o Rio Grande do Sul é outro — entusiasma-se Almeida.
O prefeito de Passo Fundo não se empolga com a ideia de Leite concorrer a presidente. Embora considere que o governador seria um excelente candidato a presidente, Almeida acha que ficou tarde para começar uma campanha do zero, em outro partido.
Publicamente, Leite diz que mantém a disposição de não ser candidato, mas os amigos têm a impressão de que ele já foi mais resistente. A um deles, ponderou que, além da dificuldade política de montar uma aliança, depois de ter dito que não concorreria à reeleição, sabe que existe o risco de não ser eleito e de, em caso de vitória, não ter o mesmo êxito do primeiro mandato.
Aliás
Conselheiros de Eduardo Leite recomendam que não caia no canto de sereia de Gilberto Kassab, desconfiados de que o presidente do PSD esteja fazendo jogo duplo e flertando com o ex-presidente Lula, depois de ter rifado o senador Rodrigo Pacheco.