Se há uma estratégia por trás do ato dos caciques do MDB que tramaram para que Alceu Moreira e Gabriel Souza não se inscrevessem para a prévia marcada para 19 de fevereiro, faltou dizer onde esperam chegar com esse movimento errático que desagradou a gregos e troianos. Os protagonistas da implosão da prévia que eles mesmos defenderam em novembro, para evitar que Alceu saísse candidato a governador em 4 de dezembro, se dividem entre o silêncio, a omissão e as explicações que não param em pé.
Em nome de evitar a desagregação do partido, o prefeito Sebastião Melo chamou Alceu e Gabriel para conversas separadas e propôs que desistissem da inscrição para se tentar encontrar um nome de consenso. A partir desse ponto as versões divergem. Cabos eleitorais de Alceu dizem que o documento da desistência já chegou para ele com a assinatura de Gabriel. Apoiadores de Gabriel, como o ex-deputado Luiz Fernando Záchia, sustentam que a ordem foi a inversa: Alceu foi convencido antes a recuar, com o argumento de que perderia a prévia, e seu concorrente seguiu pelo mesmo caminho para não ser acusado de intransigência.
De acordo com Záchia, que apoia Gabriel, Alceu teria resistido até o momento em que o deputado Giovani Feltes avisou que ele e Márcio Biolchi anunciariam apoio a Gabriel. Assim que consentiu em não registrar a candidatura, Melo teria chamado Gabriel para uma conversa, na sede do diretório do MDB. Desconfiado, Gabriel levou com ele o deputado Vilmar Zanchin, que testemunhou o apelo pelo recuo.
Independentemente do que veio antes, a dúvida que ficou para Záchia é aonde os chamados históricos do MDB querem chegar:
— Bem ou mal, a base estava mobilizada pela prévia, como há muito não se mobilizava. Desmarcaram o que o diretório aprovou e não marcaram outra data. Deixaram um vácuo e em política não existe vazio. Alguém ocupa o espaço.
No vácuo da lambança do MDB, os tucanos também se perguntam se vale a pena esperar por um parceiro tão instável ou se é melhor construir uma alternativa com outros partidos integrantes da base do governo. O lançamento de Paula Mascarenhas, por tucanos da Zona Sul, foi um sinal para o MDB.
Se o MDB quer ganhar tempo até abril, quando quem vai concorrer precisa se desincompatibilizar — caso de Paula e do próprio governador Eduardo Leite, se for candidato a outro cargo que não a reeleição — poderá ser tarde demais. Gabriel divulgou nota e publicou um vídeo nas redes sociais informando que não desistiu da candidatura. Alceu também publicou texto em que diz que segue à disposição do partido para ser o candidato.
De sua parte, Záchia postou um texto nas redes sociais dizendo que em política não existe fila, existe o momento. No seu entender, o momento é de Gabriel, que foi líder do governo Sartori e tem o apoio declarado de Leite (leia abaixo).
Sem prévias, paira a indefinição
O adiamento da prévia não foi consenso entre os líderes do MDB. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Edson Brum, que cumpria agenda no interior do Estado, foi contatado pelos correligionários por telefone e se posicionou contra o movimento, alegando que o partido já estava mobilizado para disputa. Preocupado com o tempo das alianças eleitorais, Brum quer que a prévia seja remarcada.
—Defendo que a prévia aconteça, em respeito às bases partidárias. Não pode meia dúzia de pessoas, em uma sala fechada, decidirem no lugar de 3 mil pessoas que participariam da prévia — opina o secretário.
Designado pelo partido na semana passada para tentar intermediar um consenso entre Alceu e Gabriel junto de Sebastião Melo e do deputado Giovani Feltes, o líder da bancada estadual, Vilmar Zanchin, disse que o partido vai "continuar conversando e ganhar tempo para o entendimento".
Na avaliação de Zanchin, a manifestação de líderes como o ex-senador Pedro Simon e o ex-governador José Ivo Sartori sobre quem seria o nome mais adequado poderá ajudar a dar fim à disputa.
—Se um dia eles fizerem isso, talvez seja um argumento forte para que o outro possa repensar. Por enquanto, os dois candidatos estão dizendo que vão disputar.
Na quarta-feira (2), o partido divulgou nota dizendo que o candidato a governador seria escolhido "através do diálogo". Mas ainda não está claro quais serão os critérios desse diálogo caso Alceu e Gabriel insistam em pleitear a candidatura.
De acordo com Zanchin, a expectativa agora é de que o partido defina o nome do concorrente até o final de março:
— Penso que nesse prazo, que inclusive foi falado ontem, talvez seja razoável para encontrarmos a alternativa. Precisamos definir o nome para começar a conversar sobre composições e coligações.
Confira a íntegra do texto de Luiz Fernando Záchia:
Gostaria de manifestar contrariedade ao cancelamento das inscrições para as prévias do MDB que iriam definir o candidato do partido ao governo do Estado. Tenho conversado com inúmeras lideranças, e por isso posso afirmar que o partido estava mobilizado em âmbito estadual e municipal diante das duas pré-candidaturas existentes - uma de renovação, a outra de experiência-, principalmente na defesa de ideias e propostas legítimas.
Entendo que essa atitude de suspenção enfraquece o ímpeto da nossa militância e, por consequência, também o nosso MDB, uma vez que a prévia do dia 19 de fevereiro havia sido aprovada pelo Diretório Estadual, e esse cancelamento não previu quando e como será realizada a nova votação.
Historicamente, sempre contamos com candidaturas que refletem o momento partidário em que a sociedade espera transparência e diálogo acima de tudo, até porque política não tem fila, política tem momentos.
Se havia um entendimento a respeito do acirramento entre as duas candidaturas, nada mais nobre do que o presidente estadual se licenciar (já que é pré-candidato), e que haja diálogo com todos para que a eleição seja realizada para manter a militância mobilizada e, consequentemente, manter acesa a chama da democracia - que é o que rege o nosso MDB.