Em 2018, o juiz Sergio Moro foi convidado a largar a magistratura para ser candidato a presidente da República, mas recusou com o argumento de que não era político. Estava no auge da popularidade, mas deixou o cavalo passar encilhado, como se diz no Rio Grande do Sul.
À época, seria acusado de ter agido politicamente nos processos em que condenou o ex-presidente Lula e que resultaram na sua prisão, mas teria conquistado o voto de uma centro-direita órfã, que se jogou nos braços de Jair Bolsonaro.
Moro tornou-se político no dia em que aceitou trocar a toga pelo cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro. Ou antes, quando permitiu que, na campanha, Álvaro Dias, hoje seu padrinho no Podemos, dissesse que ele seria ministro, quando ainda era juiz.
Ainda que sua intenção ao aceitar o convite de Bolsonaro fosse pegar um atalho para virar ministro do Supremo Tribunal Federal, ali trocou de lado. A filiação ao Podemos, nesta quarta-feira (10), é o caminho natural para quem abraçou a política. Ninguém pode ser candidato sem estar filiado a um partido.
Seguindo com a analogia gauchesca, Moro agora tentará montar o cavalo em pelo, sem arreios. É possível que chegue ao destino, segurando o bicho apenas com uma corda ou agarrado nas crinas? É, mas será uma jornada dura.
O ex-juiz encontrará na carreira o ex-presidente a quem condenou e o presidente a quem serviu até descobrir que estava enterrando seu futuro e pedir demissão. São eles que lideram as pesquisas de hoje e têm uma parcela fiel do eleitorado que os segue de olhos fechados. Terá ainda outros competidores aguerridos, como Ciro Gomes (PDT), com quem aparece empatado nas pesquisas. E pretendentes que ainda não mostraram suas armas.
No caminho para o Planalto, Moro enfrentará o ódio das torcidas de Lula e Bolsonaro, que costumam ser cruéis com os inimigos. Sua base na largada são as viúvas da Lava-Jato, os eleitores que ainda procuram um nome “de fora da política” — ainda que não seja seu caso — e os que não se importam com sua inexperiência administrativa porque têm o combate à corrupção como única bandeira.
Se for mesmo candidato — e tudo indica que será —, Moro terá de apresentar um plano de governo consistente e mostrar qual é o seu time para governar. Nenhum candidato é capaz de entender profundamente de todas as áreas da administração pública, mas precisa cercar-se de uma equipe competente. Caso seja eleito, terá de lidar com o centrão e seu apetite pelo poder, porque esta é uma das poucas certezas de 2022: o centrão continuará existindo e estará no governo, seja qual for o presidente.