Nunca desde a redemocratização houve um Sete de Setembro cercado de tantas tensões como este. Porque mesmo em 1992, quando Fernando Collor fez aquele apelo patético para que os brasileiros se vestissem de verde e amarelo e não o deixassem só, não havia o clima de guerra criado agora pelo confronto do presidente Jair Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal. As ameaças de invasão do prédio do STF e de bloqueio de rodovias por caminhoneiros, somadas às declarações de Bolsonaro de que o Sete de Setembro será ultimato aos ministros do Supremo, criaram um clima de crise que, longe de celebrar o patriotismo, incita á violência.
O que Bolsonaro quer é cristalino: dar uma demonstração de força reunindo milhares de pessoas nas principais capitais, sobretudo em Brasília e São Paulo, para tentar desqualificar as pesquisas que mostram perda de popularidade. Mesmo que o número de pessoas nas ruas seja o reflexo do que as pesquisas mostram — que Bolsonaro tem 25% do eleitorado, fatia bastante expressiva — o Brasil tem 148 milhões de eleitores. A maioria silenciosa não estará nas ruas, nem para defender Bolsonaro, nem para acompanhar a oposição.
Manifestações numerosas e barulhentas também servirão para ofuscar, pelo menos por alguns dias, a crise econômica, a inflação galopante, o aumento do preço da energia, o risco de racionamento e os problemas da família, com o avanço das investigações sobre a rachadinha nos gabinetes de Flávio e Carlos Bolsonaro no Rio. Depois de um período de calmaria, o escândalo ganhou fôlego com a decretação da quebra de sigilo de Carlos e as revelações do ex-funcionário Marcelo Luiz Nogueira dos Santos sobre a atuação da segunda ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina do Valle, na coordenação da rachadinha.
A oposição resolveu não deixar os bolsonaristas tomarem conta das ruas no Dia da Pátria e, mesmo dividida, marcou manifestações para terça-feira, o que amplia o potencial de conflitos. A estratégia sugere um equívoco, já que os territórios mais vistosos, a Praça dos Três Poderes e a Avenida Paulista, estarão reservados à torcida bolsonarista.
Para o Brasil, o que estará em jogo no Sete de Setembro é a solidez das instituições democráticas. Não haverá tanques nas ruas, porque o Ministério da Defesa cancelou o desfile cívico-militar em todo o país, por causa da pandemia, mas o tamanho das manifestações pode ser uma espécie de termômetro das chances de Bolsonaro tentar um golpe. Não agora, porque seria jogar o país no caos e correr o risco de um processo de impeachment, mas em 2022, caso perca a eleição.
Aliás
Os aliados de Bolsonaro sabem e já alertaram que ele será o grande prejudicado se os aloprados tentarem alguma coisa parecida com a invasão do Capitólio, ainda mais depois de ele ter falado em ultimato a dois ministros do Supremo Tribunal Federal.
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