O que seria um dia de alegria para milhões de pais e mães de adolescentes, com a vacinação contra a covid-19 autorizada pelo Ministério da Saúde, virou pesadelo com as confusões semeadas pelo ministro Marcelo Queiroga. Na entrevista em que deveria tirar as dúvidas sobre uma nota divulgada mais cedo, Queiroga recuou na orientação dada a Estados e municípios e disse que a aplicação deveria ser suspensa. Atônitos, os gestores da saúde Brasil afora tomaram decisões divergentes diante da orientação contraditória de quem deveria iluminar o cenário.
Tudo começou com uma nota informativa confusa da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, assinada eletronicamente pela secretária Rosana Leite de Melo às 21h30min de quarta-feira (15). O texto é uma mistura de desinformação, imprecisão e contradição com a orientação do próprio Ministério da Saúde (confira a íntegra abaixo). A nota veio a público sem explicações e começou a provocar confusão no final da manhã desta quinta-feira.
Na entrevista em que deveria tirar as dúvidas, Queiroga só ampliou a confusão. Primeiro, disse que a orientação era vacinar somente adolescentes com comorbidades e privados de liberdade — que na maioria dos Estados já receberam a primeira dose. Reiterou que os jovens devem ser vacinados com Pfizer, o que não é novidade, já que somente essa vacina tem autorização da Anvisa para aplicação entre 12 e 18 anos.
— Mães, não levem suas crianças para a sala de imunização para tomar vacina que não tenha autorização da Anvisa — disse Queiroga, deixando as mães ainda mais confusas.
Em seguida, ampliou a preocupação ao dizer que “3,5 milhões de adolescentes receberam vacina de maneira intempestiva e cerca de 1,5 mil apresentaram eventos adversos". Depois, recomendou que adolescentes sem comorbidade que já tomaram a primeira dose não tomem a segunda.
Como assim? Não tomar a segunda dose, se tudo o que se sabe é que a Pfizer precisa de suas doses? O que seriam eventos adversos? O que seria intempestiva, se tudo foi feito com a orientação do Ministério da Saúde?
No meio da entrevista, Queiroga deu a pista da origem da reviravolta. Disse que o presidente Jair Bolsonaro cobrou dele, pela manhã, “sobre a questão dos adolescentes”. Bingo!
Há dois dias, a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel publicou um tuíte dizendo que o Ministério da Saúde não recomendava a aplicação da vacina em menores de 18 anos. Errado: a ex-atleta estava usando uma informação defasada, já que a orientação oficial era vacinar os adolescentes a partir de 15 de setembro.
Em março, essa mesma senhora disse em um programa da rádio Jovem Pan elogiado por Bolsonaro que nos Estados Unidos as vacinas contra a covid-19 haviam causado a morte de 501 pessoas e reações adversas em mais de 11 mil. Era mentira, mas Ana Paula continuou com suas pregações, amplificadas nas redes sociais bolsonaristas.
Questionado sobre o que embasava a decisão anterior, de vacinar adolescentes a partir do dia 15, Queiroga embromou. Disse que a ciência é dinâmica e a posição das autoridades pode mudar. Acrescentou que a recomendação foi suspensa por uma "questão de cautela", referindo-se ao caso de um rapaz de 16 anos de São Bernardo do Campo (SP), vacinado, que sofreu um AVC. O caso ainda está sendo investigado para saber se há relação com a vacina.
Diante da confusão semeada pelo ministro, o diretor de Vigilância em Saúde em Porto Alegre (onde a vacinação de adolescentes está avançada) Fernando Ritter, foi taxativo em seu perfil no Twitter:
“Com relação à vacinação de adolescentes: “1. Anvisa autorizou a vacinação de adolescentes com Pfizer e ainda não emitiu nota ao contrário. 2. A OMS recomenda a vacinação para maiores de 12 anos com Pfizer, cujos estudos mostram alta eficácia e boa segurança”.
Aliás
É possível que o desserviço prestado pelo ministro Marcelo Queiroga seja apenas o retrato da confusão que reina no Ministério da Saúde pela política do "um manda e outro obedece". Seria surreal se fosse cortina de fumaça para ocultar o grande escândalo do dia, o caso criminoso da Prevent Sênior.
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