A promessa do presidente Jair Bolsonaro de apresentar provas de que houve fraude na eleição não passou de um “traque”. Na live desta quinta-feira (29) à noite, o próprio presidente reconheceu que não tinha provas de fraude, como prometia apresentar desde 2018, mas apenas o que chamou de “fortes indícios”. Depois de mais de duas horas de campanha eleitoral explícita e de discurso em defesa do voto impresso, que ora chama de “auditável”, ora de “democrático”, tudo o que Bolsonaro apresentou foram exemplos da mais genuína teoria conspiratória, a maioria já checados e desmentidos.
A live foi um festival de desinformação, distorção e ilações, tanto por parte do presidente quanto de um certo Eduardo, apresentado como “analista de inteligência”, convidado para protagonizar a live ao lado dele. Parte dos “indícios” que Bolsonaro apresentou foram vídeos que circulam na internet, colocando em dúvida a credibilidade das urnas eletrônicas.
Um dos indícios seria o fato de em 2020 ter apostado seu “capital” em duas candidatas em São Paulo e só uma ter sido eleita. O convidado exibiu uma animação protagonizada por um programador identificado apenas como Jederson, que supostamente provaria que é fácil mexer no código-fonte da urna eletrônica, de forma a direcionar para o candidato “escolhido” parte dos votos dados a outro.
Pelas teorias conspiratórias de Bolsonaro, Aécio Neves (PSDB) venceu a eleição de 2014, ele foi eleito no primeiro turno em 2018 e a vitória de Bruno Covas (PSDB) na eleição para prefeito de São Paulo foi uma fraude.
Sucessivas vezes, Bolsonaro acusou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, de não permitir o voto impresso, embora a decisão dependa exclusivamente do Congresso. Culpou Barroso pela mudança de posição na comissão especial analisa a adoção do voto impresso, já que foi depois de uma conversa com o ministro que os parlamentares recuaram.
Bolsonaro acenou com uma virada de mesa se perder a eleição com o sistema atual de voto eletrônico:
— Qual o futuro do Brasil se terminar a eleição e um lado e outro desconfiarem do resultado? Estamos há mais um ano dizendo que não queremos problemas.
Em vários momentos, atacou os ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral:
— Será que existe um sistema querendo por meios outros que não os democráticos fazer voltar ao poder aqueles que mergulharam o país na corrupção e na impunidade? É justo que quem tirou Lula da cadeia e o tornou ilegível ser o mesmo que vai contar o voto numa sala secreta no TSE?
O nome de Lula pairou ao longo de toda a transmissão, feita diretamente do Palácio da Alvorada. Chamando o ex-presidente do o “outro lado”, disse que se ele vencer a eleição o Brasil vai virar uma Cuba ou Venezuela.
Ao final, Bolsonaro repetiu que será o último brasileiro a se vacinar e elogiou os ministros, um a um, incluindo o ex-ministro Eduardo Pazuello, e os presidentes da Câmara e do Senado. Reclamou das acusações contra a mulher e os filhos e terminou dizendo:
— Não é fácil. Não queiram a minha cadeira.
Aliás
Ao final da livre, o diretor-geral da Polícia Federal leu trechos de relatórios de peritos da instituição dizendo que o sistema atual não é auditável e sugerindo que seja adotado o voto impresso para dar mais confiança à população. A PF não apresentou qualquer prova de fraude.