Ainda que o julgamento tenha sido suspenso por um pedido de vista do decano Marco Aurélio Mello, a confirmação da suspeição do ex-juiz Sergio Moro no processo contra o ex-presidente Lula, pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), joga mais uma pá de cal sobre a Operação Lava-Jato.
Moro foi declarado suspeito no processo que envolve o triplex do Guarujá, no qual Lula foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Posteriormente, os vereditos foram anulados. O processo do triplex terá a tramitação reiniciada na Justiça Federal do Distrito Federal, assim como outras três ações penais que miram o ex-presidente: a do sítio de Atibaia e outras duas que investigam o Instituto Lula.
A força-tarefa que desvendou esquemas bilionários de corrupção na Petrobras e em outras estatais já tinha sido desmontada ao longo dos últimos meses. O grande golpe na Lava-Jato veio com a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações de Lula, acatando o argumento de que ele não poderia ter sido processado em Curitiba, mas em Brasília. Como os processos voltaram à estaca zero, o ex-presidente está livre para a disputar a eleição de 2022.
É equivocado dizer que Lula foi absolvido. Não foi. O que o STF disse é que o foro competente é outro. Como o julgamento foi anulado, o mesmo Fachin entendia que a ação questionando a imparcialidade de Moro deveria ser arquivada por perda de objeto, mas a maioria dos ministros entendeu que não. E a Segunda Turma votou pela suspeição de Moro.
Ao trocar a toga pela vaga de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Moro deu razão aos que o acusavam de agir por motivos políticos, o que é incompatível com o papel de magistrado. O juiz mais popular da história do Brasil se aventurou no terreno pantanoso da política, mas não foi a opção pelo ministério que colocou a Lava-Jato na berlinda. Foram os vazamentos de mensagens trocadas entre Moro e membros do Ministério Público, feitos por um hacker e publicados pelo site The Intercept Brasil, que levaram os ministros a concluir que a imparcialidade do magistrado tinha sido violada.
Por coincidência, neste sábado (24) vai fazer um ano que Moro, desgastado pelas acusações de tentativas de interferência na Polícia Federal pelo presidente, rompeu com Bolsonaro, pediu demissão e virou vidraça.