Por mais que se defenda a prioridade aos professores na vacinação contra a covid-19 — e esta coluna defende —, não há como esperar até que o último seja imunizado para retomar as aulas presenciais. Na vigência da bandeira preta, é justificável o receio da exposição, dado que o Rio Grande do Sul e outros Estados enfrentaram nas últimas semanas o colapso do sistema hospitalar. Como os indicadores estão melhorando, é preciso se preparar a retomada das aulas, mesmo sem vacinação, dotando as escolas de condições para cumprir os protocolos.
A insistência de alguns dirigentes sindicais em só retomar as aulas quando todos estiverem vacinados não tem precedentes no mundo civilizado. Escolas foram fechadas em momentos agudos da pandemia e retomadas antes de outros setores. No Rio Grande do Sul ocorre o contrário: até os bares foram reabertos e as escolas seguem fechadas — no caso, por decisão judicial.
Em defesa da tese de que só vacinados os professores podem voltar às salas de aula, os sindicalistas sustentam que nada pode ser mais perigoso do que passar quatro horas por dia em uma sala de aula com crianças de diferentes origens. Não é bem assim. Há diversas outras atividades que oferecem maior risco e que ao longo de todo o ano de 2020 não pararam um dia sequer, até porque são essenciais. Profissionais da saúde, por exemplo, só estão sendo vacinados agora e trabalharam 12 meses expostos permanentemente ao risco de contaminação.
Motoristas e cobradores de ônibus têm menos possibilidade de controlar os passageiros do os professores em salas de aula com número limitados de alunos. Caixas de supermercado passam oito horas atendendo clientes que passam a menos de 50 centímetros do seu nariz e ainda precisam tocar em produtos que sabe Deus por quantas mãos passaram antes de chegar ao leitor de preços e ao empacotador.
Entregadores de comida, água e encomendas expõem-se o tempo todo ao risco de deparar com um cliente contaminado. Caminhoneiros, policiais (só agora vacinados), garis e outros tantos prestadores de serviços que não têm controle sobre o público, como têm os professores com seus alunos, também nunca puderam se dar o luxo de parar ou de trabalhar em casa, como fazemos alguns de nós, jornalistas.
O ideal é que se tenha vacina para todos, como ocorre nos Estados Unidos, que já estão imunizando os jovens. Enquanto esse dia não chega, é preciso contemplar os mais expostos e os que correm mais risco se ocupar UTIs.
Aliás
A retomada as aulas presenciais é importante para o futuro das crianças e adolescentes, sobretudo os de famílias carentes, que não têm internet de alta velocidade nem equipamentos de qualidade para acompanhar as lições online.