Citado pelo jornal O Estado S.Paulo como um dos nomes cogitados pela direção do PT para compor uma chapa com o ex-presidente Lula em 2022, o general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro, divulgou nota descartando essa possibilidade e explicitando seus motivos. Esclareceu que nunca foi sondado, não é filiado a partido político e, por diversas razões, não seria possível uma composição com Lula.
“Sou um cidadão de direita (apesar de considerar as simplificações ‘direita e esquerda’ limitadas e antiquadas). Considero o diálogo essencial e repudio o extremismo ideológico, a corrupção, o fanatismo político, o populismo e a demagogia. Tenho sido claro em dizer que o Brasil não merece ter que optar entre dois extremos já conhecidos, viciados e desgastados. Ambos os extremos do nosso espectro político são exatamente iguais na prática e não servem para o Brasil”, diz Santos Cruz, no início da nota.
O general foi o primeiro militar a deixar o governo Bolsonaro. Sofreu ataques virulentos de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo em geral, e dos filhos do presidente, em particular. Tornou-se um dos principais críticos do presidente, a quem considera despreparado para governar o país, mas nem por isso compactua com o discurso do PT de que a Operação Lava-Jato foi um apenas movimento político para impedir Lula de ser candidato.
Sobre a Lava-Jato, diz: “Considero a Operação Lava Jato um marco na nossa história e na esperança de combate à corrupção. Essa operação e outras devem ter continuidade, incluindo o aperfeiçoamento dos mecanismos de transparência e controle de contas públicas”.
Em um dos trechos do documento, Santos Cruz diz: “Sou crítico do governo por causa da influência de fanáticos extremistas, falta de comportamento adequado, afastamento das promessas que o levaram ao poder, postura populista, foco em reeleição, irresponsabilidade e polarização política.”
Confira a íntegra da nota:
"ESCLARECIMENTO
O Jornal O Estado de S. Paulo publicou, na edição de ontem (17.3.2021), a informaçao de que a direção do PT ventilou meu nome em um possível convite para compor uma chapa à Presidência da República com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, dentro de um movimento de aproximação com os militares. A respeito desse assunto, venho a público esclarecer a minha posição.
1. Jamais recebi qualquer comunicação sobre o assunto em foco e não sou filiado a nenhum partido político. Também, por diversas outras razões, não é possível tal composição.
2. Sou um cidadão de direita (apesar de considerar as simplificações "direita e esquerda" limitadas e antiquadas). Considero o diálogo essencial e repudio o extremismo ideológico, a corrupção, o fanatismo político, o populismo e a demagogia. Tenho sido claro em dizer que o Brasil não merece ter que optar entre dois extremos já conhecidos, viciados e desgastados. Ambos os extremos do nosso espectro politico são exatamente iguais na prática e não servem para o Brasil.
3. Neste momento, sou a favor de um governo que promova a paz e a união nacional, que governe para todos e não apenas para os seus seguidores mais próximos. A sociedade não pode viver em estado permanente de campanha política, dividida em amigos e inimigos, intoxicada e manipulada por extremistas. As instituições precisam ser independentes e o aparelhamento das mesmas é inaceitável. O Brasil precisa voltar ao equilíbrio, à normalidade.
4. Minhas manifestações públicas têm os objetivos de alertar para o perigo do fanatismo político que gera violência e para as tentativas absurdas de arrastar o Exército, aonde servi por cerca de 47 anos, para o dia-a-dia da política partidária e utilizá-lo como instrumento na disputa de poder.
5. Sou crítico do governo por causa da influência de fanáticos extremistas, falta de comportamento adequado, afastamento das promessas que o levaram ao poder, postura populista, foco em reeleição, irresponsabilidade e polarização política.
6. É inaceitável que a pandemia tenha sido conduzida sem liderança, sem com falta de considerações técnicas, com constantes tentativas de desmoralização dos procedimentos apropriados, politização completa de todo o processo e até de medicamentos, e a consequente falta de vacinas, necessárias para salvar vidas e possibilitar o retorno das atividades econômicas. Houve perda de tempo com banalidades e estamos absurdamente atrasados.
7. Considero a Operação Lava Jato um marco na nossa história e na esperança de combate à corrupção. Essa operação e outras devem ter continuidade, incluindo o aperfeiçoamento dos mecanismos de transparência e controle de contas públicas.
8. A reforma do Estado deve contemplar a extinção de todos os privilégios, a começar pelo foro privilegiado.
9. Acredito numa diplomacia atuante, responsável e multilateral, colocando o Brasil na liderança mundial das questões de preservação da Amazônia e do meio-ambiente.
10. Considero a liberdade de opinião e de imprensa como fundamental para a democracia, que depende também do aperfeiçoamento permanente das instituições.
11. A descrença e o desprestígio no Executivo, no Legislativo e no Judiciário e em outras instituições precisam ser tratados com discussão de ideias e medidas que produzam os aperfeiçoamentos institucionais necessários.
12. Não creio em salvador da pátria e nem que exista necessidade de tal salvamento. Acredito no trabalho e na capacidade dos cidadãos.
13. Como eleitor, espero que as forças políticas e produtivas (empresários e cidadãos), construam alternativas que levem a um governo que traga de volta a paz, o respeito, a união, a recuperação da economia, reduza a nossa imoral desigualdade social e auxilie os mais vulneráveis.
14. Essas são as razões pelas quais não existe nenhuma possibilidade da minha participação nos dois extremos que considero nocivos ao Brasil.
Brasília, 18.3.2021
Carlos Alberto dos Santos Cruz”