Para quem acompanhou os embates entre Eduardo Leite e José Ivo Sartori no segundo turno de 2018, pode soar estranho, mas é a mais pura verdade: a venda da CEEE-D só se consumou porque o governo anterior deixou o terreno preparado. Sartori propôs a realização do plebiscito, que até então a Constituição exigia, para vender as estatais do setor elétrico (CEEE, Sulgás e CRM). Leite foi contra. Não por discordar da privatização, mas por entender que, no plebiscito, o governo seria derrotado.
O raciocínio de Leite era simples: como a população em geral não está preocupada se os serviços públicos são fornecidos por uma empresa pública ou privada, as corporações se mobilizariam, venceriam o plebiscito e tão cedo o assunto não voltaria a ser discutido. Eleito, montou uma base sólida na Assembleia e conseguiu derrubar a exigência de plebiscito sem maior resistência, porque Sartori tinha deixado o terreno preparado. Estava quebrado o tabu.
Vendida a CEEE-D por um preço simbólico, o governo agora prepara o leilão das outras duas empresas, a de geração e a de transmissão de energia, que devem injetar dinheiro para investimentos. Essa era a aposta de Sartori, que Leite deu continuidade porque, abstraindo-se a disputa eleitoral, o projeto do PSDB é praticamente o mesmo do MDB. Tanto é que o partido está no governo e presidente da Assembleia, Gabriel Souza (MDB), foi a São Paulo para acompanhar o leilão na B3 ao lado do governador.
O primeiro sinal dessa continuidade foi dado ainda em 2018, com a escolha de Artur Lemos para Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura, cujo guarda-chuva abriga a CEEE, a CRM, a Sulgás e a Corsan, que Leite quer privatizar. Assim que o martelo foi batido, Lemos, hoje chefe da Casa Civil, mandou uma mensagem para o grupo de WhatsApp criado no governo Sartori com o nome PEC Plebiscito e que tinha, entre outros, os então secretários Carlos Búrigo, Márcio Biolchi e Cleber Benvegnú:
“Agora este grupo pode ser encerrado. 6 anos carregando este desafio. Hj literalmente me emociono por um enorme desafio vencido. Obg por todas aula que recebi de vcs. abs (sic)”.
Aliás
A afinidade entre MDB e PSDB deve resultar em uma aliança para a eleição de 2022. Como Eduardo Leite não será candidato à reeleição, a tendência é de que a chapa seja encabeçada pelo MDB, numa tentativa de unir o centro para evitar o segundo turno entre o senador Luis Carlos Heinze (PP) e o (a) candidato (a) da esquerda.
Uma empresa por um Corolla
Adversário das privatizações, o deputado Pepe Vargas (PT) diz que o governo Eduardo Leite trocou a CEEE-D por um Corolla. Na verdade, os R$ 100 mil pagos pela Equatorial não são suficientes para comprar um Corolla top de linha zero quilômetro.
O que o Piratini comemora é ter se livrado de um passivo de cerca de R$ 7 bilhões e o fato de começar a receber o ICMS em dia a partir de maio. Do que a CEEE deve, só uma parte será paga. A maior fatia virou pó, para permitir que o negócio saísse.