A brutalidade do assassinato de João Alberto Silveira de Freitas, 40 anos, negro, dentro do Carrefour do Passo d'Areia, em Porto Alegre, remete ao assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, que levou para o mundo o slogan "Vidas Negras Importam".
João Alberto foi morto por dois seguranças, um deles policial militar temporário que usava o mesmo uniforme da empresa de São Paulo que presta serviços ao Carrefour. Como Floyd, também parou de respirar quando já estava imobilizado. A perícia dirá se foi asfixia, como Floyd, ou se o coração não aguentou as agressões e o peso dos dois brutamontes sobre ele.
A indignação com a violência do ato e com a funcionária do supermercado que, em vez de pedir aos seguranças que parem, só tenta impedir a gravação das cenas, nos chocam desde a madrugada. O sangue no piso do estacionamento e a imagem de João Alberto sendo agredido até a morte, diante de clientes com celulares ligados, marcam, tristemente, este Dia da Consciência Negra.
Mais um para as estatísticas que mostram o elevado número de negros mortos em circunstâncias semelhantes. Um homem que deixa a esposa Milena, cuidadora de idosos (testemunha do espancamento), quatro filhos e um pai atônito na porta do Departamento Médico Legal, esperando pela liberação do corpo.
Ainda não está claro o que desencadeou o ato violento — as câmeras não captaram o suposto gesto que teria feito a fiscal dos caixas chamar os seguranças. Seja qual for, nada justifica a agressão e a morte.
Os assassinos terão de responder pelo crime à luz do Código Penal. E à Justiça, caberá estabelecer a pena.
Por mais que compreenda a indignação de negros e brancos com a morte de João Alberto, neste momento faço um apelo para que não se responda à violência com mais violência. A polícia está fazendo seu trabalho, o governo já anunciou o desligamento do PM temporário — que pelas informações preliminares estava fazendo bico —, e o inquérito deve ser concluído em tempo recorde, pela abundância de evidências, provas e testemunhos. Que ninguém tente fazer justiça com as próprias mãos, porque isso seria responder à barbárie com outra barbárie.
Manifestações estão previstas para esta sexta-feira, em frente à loja (que permanece fechada). Que sejam manifestações pacíficas, para que um episódio trágico como esse não se transforme em estopins para outros atos de violência, nem seja usada politicamente.