Eleito vereador no último domingo (15) com a quinta maior votação de Porto Alegre, o historiador Matheus Gomes (PSOL) procurou a coluna para contestar as afirmações proferidas pelo vereador Valter Nagelstein (PSD), em um áudio enviado a apoiadores que começou a circular na terça-feira (17). Na mensagem, Nagelstein disse que os parlamentares eleitos pelo PSOL são “muitos deles jovens negros”, “sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal”. À coluna, o vereador do PSD também afirmou que Gomes "foi um dos invasores da Câmara e depois de escolas".
As afirmações do vereador ocorreram depois do resultado da eleição proporcional do último domingo, em que foram eleitos cinco vereadores negros (dois deles do PSOL), maior número da história de Porto Alegre. Na mesma eleição, Nagelstein concorreu a prefeito e ficou em sexto lugar, com 3% dos votos válidos.
Gomes descreveu as afirmações do vereador como uma representação do preconceito sofrido por pessoas negras:
— Foi um ataque de cunho racista, porque olhou para candidaturas negras e procurou desqualificá-las.
Sobre a crítica de que não teriam qualificação formal, o vereador eleito ressaltou que é historiador formado pela UFRGS e está concluindo o mestrado, e que ele e seus colegas são "parte de uma nova geração da juventude que teve oportunidade de acessar uma universidade".
Além de Gomes, os outros três vereadores eleitos pelo PSOL em Porto Alegre possuem ensino superior completo.
Em seu mandato, o novo parlamentar pretende unir forças com as quatro vereadoras negras que farão parte da próxima legislatura para engajar todos os demais colegas na luta contra a desigualdade racial.
— Nossa posição será de construir com os vereadores de todos os partidos, para que possam ouvir as demandas do povo negro e resolver os problemas.
Questionado sobre um adesivo de campanha que contém os dizeres "fogo nos racistas", criticado por Nagelstein em um vídeo publicado nas redes sociais, Gomes explicou que a frase foi extraída de uma música do rapper Djonga composta em 2017 e representa a resistência à violência ocasionada pelo preconceito racial.
— Essa frase remonta a uma tradição histórica do movimento negro brasileiro e da diáspora africana, que é nosso direito à autodefesa, a nossa liberdade de não aceitar a violência racial. Eu não posso dizer "flores para um racista". Não posso sofrer violência racial no dia a dia e aceitar calado.
O que diz Nagelstein
Questionado pela coluna na terça-feira (17) sobre as declarações, Valter Nagelstein disse que seria absurdo interpretar como conotação racista sua afirmação sobre os vereadores do PSOL e que apenas reproduziu o discurso do partido.
— Estou reproduzindo o discurso do PSOL, de que os negros são excluídos, perseguidos. Que a polícia mata os negros, que a sociedade branca os discrimina. Digo que esse discurso encontrou eco na sociedade e eles fizeram a maior bancada — afirmou.
Nagelstein declarou ainda que sua opinião sobre a baixa qualificação dos vereadores eleitos não é restrita aos quatro do PSOL:
— A rigor, essa Câmara que foi eleita é fraca. Muita gente sem qualificação formal. Alguns que nunca trabalharam, só fazem política.
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