O mau desempenho na eleição municipal, em que ficou em sexto lugar na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, com apenas 20.033 votos (3,1% dos válidos), não foi suficiente para o vereador Valter Nagelstein (PSD) entender o recado das urnas. A culpa, conforme balanço encaminhado a amigos, é de terceiros.
Em mensagem de áudio enviada a seus seguidores (ouça abaixo), e que viralizou na tarde desta terça-feira (17), Valter agradece aos eleitores pelos votos que recebeu e faz considerações preconceituosas em relação aos vereadores eleitos, dizendo que os do PSOL são “muitos deles jovens negros”, “sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal”.
No áudio, Nagelstein diz que “fica cada vez mais evidente que a ocupação que a esquerda promoveu nos últimos 40 anos, da universidade, das escolas, do jornalismo e da cultura produzem os seus resultados” e que “basta a gente ver a composição da Câmara para chegar a essa conclusão”.
O vereador pede a seus amigos que não se impressionem com a votação baixa que fez, apesar da "muita qualificação" . Culpa a falta de estrutura da campanha e o pouco tempo de TV e, principalmente, a pesquisa, que apontou a liderança de Manuela D’Ávila. Diz textualmente: “Quando a pesquisa mostrou, esta semana, que a Manuela tinha 40%, muita gente que ia votar em mim, que ia votar no Gustavo Paim, por exemplo, em mim, principalmente, eu acho, acabou migrando para o Sebastião Melo, pelo tal do voto útil. Por quê? Porque não queria que a Manuela ganhasse, que a esquerda ganhasse. Então, acabou indo pra lá”.
Em todas as pesquisas, do Ibope e dos institutos concorrentes, divulgadas ao longo do processo eleitoral, Nalgesltein nunca teve índices superiores aos registrados na urna no domingo. Também não explica que Melo desde o início da campanha soube atrair os maiores aliados do bolsonarismo no Estado, o que ele e Paim não conseguiram.
Na gravação, o candidato derrotado do PSD anuncia que vai fundar um instituto de ideias conservadoras: “Chama-se Conservar. É uma ideia que eu tive há dois anos atrás e que está na hora de implementar para o futuro. Porque nós precisamos primeiro trabalhar a questão ideológica, o que são as ideias conservadoras, e espalhar essas ideias”.
Por fim, apela aos seguidores que se unam para evitar a vitória da esquerda em Porto Alegre.
O que diz o vereador
Questionado pela coluna, sobre o que quis dizer, Nagelstein respondeu:
— Exatamente o que eu disse. Estou reproduzindo o discurso do PSOL, de que os negros são excluídos, perseguidos. Que a polícia mata os negros, que a sociedade branca os discrimina. Digo que esse discurso encontrou eco na sociedade e eles fizeram a maior bancada.
O vereador diz que é absurdo interpretar como conotação racista sua afirmação sobre os vereadores do PSOL:
— Não sou racista. Minha avó é negra. Qual é o problema de eles serem negros? Nenhum. Se há racismo, é no discurso do PSOL.
Em relação à qualificação dos vereadores, reafirmou que não se trata de preconceito, mas de conceito: que os eleitos do PSOL têm baixa qualificação formal, apesar de Karen Santos, a mais votada, ser professora e Pedro Ruas, o segundo, advogado.
Informado de que Karen Santos se ofendeu com a publicação, respondeu:
— A Karen vai se ofender com qualquer coisa. Quando eu disse que ela tinha que usar uma roupa adequada para subir a tribuna ela se ofendeu. E o Matheus (Gomes) foi um dos invasores da Câmara e depois de escolas.
Nagelstein disse que sua opinião sobre a baixa qualificação dos vereadores eleitos não é restrita aos quatro do PSOL:
— A rigor, essa Câmara que foi eleita é fraca. Muita gente sem qualificação formal. Alguns que nunca trabalharam, só fazem política.
O vereador acredita que os amigos para quem mandou o áudio repassaram a outras pessoas não por discordarem do conteúdo, mas por encontrarem “verdade nele”.
Confira o áudio e a transcrição da mensagem:
“Gente, bom dia a todos. Primeiro lugar, muito obrigado. É o Valter que está falando, pelo apoio que tive. Rapidamente, queria fazer duas ou três reflexões com vocês. Primeira delas: fica cada vez mais vez mais evidente que a ocupação que a esquerda promoveu nos últimos 40 anos, da universidade, das escolas, do jornalismo e da cultura produzem os seus resultados. Basta a gente ver a composição da Câmara. Cinco vereadores do PSOL (na verdade são quatro) muitos deles jovens, negros, quer dizer, o eco àquele discurso que o PSOL foi incutindo na cabeça das pessoas. Pessoas, vereadores esses, sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal. Então, essa é a primeira reflexão que eu queria fazer.
A segunda, não se impressionem aí com o número de votos que eu acabei fazendo, que o Paim (Gustavo Paim, candidato do PP) acabou fazendo. A primeira questão: eu estava num partido com pouca estrutura. Eu fiz a campanha mais modesta de todos os candidatos. A gente teve pouco recurso. Tive pouco tempo de TV, também: 43 segundos, embora com muitas ideias, como vocês sabem. E com muita qualificação, como vocês sabem também. Mas isso, por si só, infelizmente, não é suficiente para uma eleição atípica, com pouco tempo de TV e com as pessoas muito desligadas do processo eleitoral. E o fenômeno da pesquisa, que eu sempre disse que estava errado e eu reafirmo isso no seguinte sentido: quando a pesquisa mostrou, essa semana, que a Manuela tinha 40%, muita gente que ia votar em mim, que ia votar no Gustavo Paim, por exemplo, mas em mim, principalmente, eu acho, acabou migrando para votar no Sebastião Melo, pelo tal do voto útil. Por quê? Porque não queria, evidentemente, que a Manuela ganhasse, que a esquerda ganhasse. Então, acabou indo pra lá.
Isso não desfaz da nossa campanha, isso não desfaz do legado que a gente deixou e isso, mais do que qualquer outra coisa, não desfaz a gratidão que eu tenho a cada um de vocês por essa luta e por essa ajuda.
Duas questões agora: eu vou propor a criação de um instituto de ideias conservadoras, se chama Conservar. É uma ideia que eu tive há dois anos atrás e que está na hora de implementar para o futuro. Porque nós precisamos, primeiro, trabalhar a questão ideológica, o que são as ideias conservadoras, e espalhar essas ideias. Segundo, nós precisamos planejar estratégias de ação e, terceiro, nós precisamos programar e também planejar políticas de comunicação para melhor nos comunicar com a sociedade. Então esse é o primeiro desafio, que já fica aqui lançado um convite pra gente se organizar.
E, dois, que é mais importante. Nos próximos dias, ajudar a esquerda a não ganhar em Porto Alegre. A esquerda já ganhou na Câmara de Vereadores, mas a esquerda não pode ganhar a prefeitura e nesse sentido eu convoco a todos vocês, que nós temos que nos somar, nós temos que nos unir, para evitar que isso aconteça. No mais, muito obrigado a todos. Obrigado mesmo.”
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