O segundo turno entre Sebastião Melo (MDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB) se consolidou no instante em que o ex-prefeito José Fortunati (PTB) saiu da disputa pela prefeitura de Porto Alegre. Manuela largou na frente e liderou, com folga, desde a primeira pesquisa do Ibope, sem nunca ter sido ameaçada por qualquer um dos 12 adversários. Melo disputava a segunda vaga com Fortunati e com o prefeito Nelson Marchezan (PSDB), tecnicamente empatado nas pesquisas, quando uma decisão da Justiça Eleitoral indeferiu o registro da candidatura do vice do petebista, André Cecchini.
A ação, movida por um candidato a vereador do PRTB, aliado de Melo, inviabilizou a chapa. No mesmo dia, MDB e PTB começaram a conversar sobre a renúncia. Dois dias depois, Fortunati renunciou e o PTB correu a apoiar Melo, que herdou votos suficientes para ultrapassar Marchezan e se isolar no segundo lugar nas pesquisas.
Além do desgaste natural do cargo, Marchezan foi alvo de uma campanha sem trégua dos vereadores, fruto de sua relação tempestuosa com a Câmara. O processo de impeachment, patrocinado por uma candidata a vereadora do mesmo PRTB que tirou Fortunati do jogo, teve a adesão dos vereadores ligados aos principais adversários. Mesmo que não tenha sido votado no prazo legal de 90 dias, o impeachment serviu para os adversários desgastarem o prefeito, passando a ideia de que seus votos poderiam ser anulados.
Melo também chegou ao segundo turno por seus méritos. Foi vereador, presidente da Câmara e vice-prefeito de Porto Alegre, período em que conheceu cada palmo da cidade. Perdeu para Marchezan em 2016 e foi reconhecido pelos eleitores na eleição de 2018, quando se elegeu deputado. A aliança com o DEM, que indicou o vereador Ricardo Gomes, um liberal convicto, como vice-prefeito, abriu caminho para o candidato conquistar os votos da direita, deixando ao relento o vice-prefeito Gustavo Paim (PP) e o vereador Valter Nagelstein (PSD).
Na reta final, Melo recebeu apoio de políticos liberais e conservadores, o que permitiu avançar sobre o eleitorado que elegeu Marchezan em 2016.
O sucesso de Manuela no primeiro turno, apesar de abaixo do que indicava a última pesquisa do Ibope, foi produzido por uma combinação de elementos: o perfil da candidata, a aliança com o PT, que tem base sólida em Porto Alegre, e uma campanha que acertou o tom do início ao fim.
Carismática, articulada e com singular capacidade de comunicação, Manuela foi alvo de ataques e notícias falsas do primeiro ao último dia de campanha, mas reagiu com firmeza sem perder a serenidade. Cresceu nas vilas, onde a preocupação é com os problemas reais e não com a ideologia, explorada por adversários que, não por acaso, ficaram nas últimas posições, como Paim e Nagelstein.
O PT entrou com o vice e a estrutura, mas o coordenador de marketing, Juliano Corbelini, teve a sabedoria de não usar a imagem desgastada do ex-presidente Lula nem os símbolos partidários. Tratou a eleição pelo que ela realmente é: a escolha do administrador da cidade.
Aliás
Os partidos, com suas bandeiras, foram os grandes ausentes desta eleição. Os candidatos que se elegeram ou se classificaram para o segundo turno apostaram mais na imagem pessoal e nas propostas para melhorar o dia a dia das cidades.