Criado para promover debates sobre direitos civis e, segundo Gabriel Besnos, um dos seus colaboradores, “trazer olhares divergentes para dentro da comunidade”, o Núcleo de Estudos Judaicos da UFRGS divulgou nota de repúdio às manifestações do vereador Valter Nagelstein (PSD), que é judeu, sobre vereadores eleitos pelo PSOL em Porto Alegre.
— Entendemos que, além de preconceituosa, a fala do vereador tem conotações racistas, e deslegitima a eleição de pessoas que pensam diferente dele. Precisamos dizer para a sociedade que ele não nos representa — disse Besnos à coluna.
Em áudio enviado a apoiadores, que viralizou nesta terça-feira (17), o vereador fez considerações preconceituosas em relação aos vereadores eleitos, dizendo que os do PSOL são “muitos deles jovens negros”, “sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência, sem nenhum trabalho e com pouquíssima qualificação formal”.
Nagelstein ficou em sexto lugar na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, com apenas 20.033 votos (3,1% dos válidos).
A nota divulgada pelo núcleo de estudos começa dizendo exatamente que “Valter Nagelstein não representa a comunidade judaica”.
Leia a íntegra da nota
“Porto Alegre, 17 de novembro de 2020
Valter Nagelstein não representa a comunidade judaica gaúcha.
Hoje, veio a público um áudio do ex-candidato à Prefeitura de Porto Alegre, Valter Nagelstein, que causou uma onda absolutamente justificada de repúdio pelo racismo incontido de suas declarações, somado a um reacionarismo aviltante. O áudio desprezível soma-se a uma série de ações desse cidadão, que, entre outros disparates, foi capaz de simular uma constrangedora dancinha em meio às notícias de mortes pela pandemia de Covid-19, em uma das cenas mais desumanas e profundamente antijudaicas - porque desrespeitosa à vida - que se tem notícia recente.
Diante da barbárie, não é possível ficar calado. A comunidade judaica gaúcha não é uma massa uniforme e, embora alguns de seus membros se arvorem no direito de representá-la e falar em seu nome, é preciso que o lugar histórico de luta dessa coletividade seja restabelecido. Esta comunidade esteve sempre ao lado dos direitos humanos, da luta antirracista, da luta pelos direitos civis, como demonstrado em inúmeras oportunidades em que suas entidades representativas lutaram lado a lado à comunidade negra e LGBTQI+, como por exemplo no combate ao revisionismo histórico e aos grupos neonazistas que assolam o Sul do país.
Não compactuamos com o racismo, a misoginia, a lgbtfobia e nem com qualquer forma de discriminação. Não podemos tolerar a intolerância de quem acha que ser um jovem negro é algo que desqualifica um vereador eleito. É inadmissível - e é crime! Como judeus progressistas, viemos através desta nota manifestar nosso repúdio à fala do vereador e comunicar o nosso compromisso em fazer da comunidade judaica e da sociedade como um todo um espaço de respeito e acolhimento à diversidade.
NEJ - Núcleo de Estudos Judaicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)”
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.