O naufrágio de sua candidatura a prefeito, quando disputava cabeça a cabeça com Nelson Marchezan e Sebastião Melo o passaporte para o segundo turno na eleição de Porto Alegre, não é a primeira desilusão política do ex-prefeito José Fortunati. Em cada um dos quatro partidos pelos quais passou em seus 65 anos de vida, Fortunati levou pelo menos uma rasteira — do destino, dos companheiros ou dos adversários.
A primeira decepção política ocorreu na eleição de 2000, quando era vice-prefeito de Porto Alegre pelo PT. Pela tradição do partido que ajudou a fundar, seria o candidato natural à prefeitura. O então titular, Raul Pont, havia sido vice na gestão de Tarso Genro, que antes foi companheiro de chapa de Olívio Dutra.
Às vésperas do pleito, Tarso e Raul entraram na disputa pela candidatura e o partido optou pelas prévias. Tarso venceu a disputa interna e a eleição. Fortunati, como prêmio de consolação, conquistou uma vaga na Câmara de Vereadores com quase 40 mil votos, número recorde na história da Capital.
No ano seguinte, ele deixaria o PT para migrar ao PDT. Pelo novo partido, chegou a se lançar candidato ao governo do Estado em 2002. Em 30 de julho, perto do início da campanha, teve de desistir por falta de apoio político e financeiro. Treze anos mais tarde revelou, em entrevista ao Jornal do Comércio, que foi o então presidente do PDT, Leonel Brizola, quem o estimulou a sair da disputa.
A estratégia, contou Fortunati, foi tomada para evitar que o candidato a presidente Ciro Gomes (então no PPS), que tinha apoio do PDT e PTB nacionalmente, ficasse com palanque duplo no Estado, já que Antônio Britto seria candidato pelo PPS. Disciplinado, Fortunati cumpriu a ordem do partido e o PDT declarou apoio a Britto, que ficou fora do segundo turno.
O PDT aderiu ao governo de Germano Rigotto e, na divisão de cargos, ganhou a cobiçada Secretaria de Educação. Rigotto pediu uma lista de nomes para os cargos que caberiam ao partido e, ao recebê-la, estranhou que Fortunati não estivesse na lista.
— Acho que vocês esqueceram de colocar o nome do Fortunati — disse o governador eleito aos dirigentes do PDT.
O nome foi escrito a caneta, no pé da lista, e Rigotto o escolheu para a vaga.
No PDT, Fortunati não teve apenas desilusões. O partido o indiciou para ser o vice de José Fogaça, no segundo mandato, em 2008. A dupla venceu a eleição e, 15 meses depois da posse, Fogaça renunciou para concorrer a governador e Fortunati herdou a vaga. Com o apoio do MDB, virou candidato a prefeito em 2012 e se elegeu no primeiro turno, com65% dos votos, tendo Sebastião Melo como vice.
Por causa de atritos com vereadores, afastou-se do PDT na fase final do mandato e foi atuar no ramo da educação, como reitor da Facinepe, uma instituição que virou caso de polícia por fraudar diplomas. O ex-prefeito se disse enganado e retomou o caminho da política.
Com o sonho de ser senador em 2018, foi convidado por vários partidos, mas acabou escolhendo o PSB, erro que lhe custaria caro. Apesar da promessa da direção de que seria candidato ao Senado, o ex-deputado Beto Albuquerque, fundador do PSB, não aceitou ter um concorrente dentro de casa. Beto refuta a ideia de que tenha “passado uma rasteira em Fortunati”:
— Desde quando um partido com três deputados estaduais poderia ter dois candidatos ao Senado? Qual chapa aceitaria dois candidatos do mesmo partido? Com todo o respeito, depois de 34 anos de PSB, era legítimo que a vaga de senador em 2018 fosse minha. Disse a ele várias vezes para se filiar em outro partido e compor a chapa com a gente, nunca no PSB. O ingresso do Fortunati no PSB, em março de 2018, foi uma passagem relâmpago que só trouxe prejuízo à minha candidatura a senador. Fortunati é vítima de suas próprias decisões faz tempo.
O PSB fechou aliança com José Ivo Sartori (MDB) e ficou com apenas uma vaga de candidato ao Senado. Beto concorreu, fez 1.713.792 votos, mas perdeu para Luís Carlos Heinze (PP) e Paulo Paim (PT). Dessa vez, nem prêmio menor Fortunati levou, já que concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados e não se elegeu porque entrou atrasado na campanha e encontrou o território ocupado.
Magoado com o PSB, o ex-prefeito resolveu estudar fora do país. Foi fazer mestrado em Ciência Política em Lisboa. Estava em Portugal no início deste ano quando o coronavírus chegou à Europa e as universidades a anunciaram a suspensão das aulas presenciais.
Fortunati pegou um dos últimos voos para o Brasil antes das restrições às viagens, desembarcou em Porto Alegre e assinou ficha no PTB para ser candidato a prefeito. Na última pesquisa do Ibope, aparecia nas simulações de segundo turno como o adversário mais difícil para Manuela D’Ávila (PCdoB), mas teve de arquivar o projeto depois de uma derrota de 6 a 0 no Tribunal Regional Eleitoral, por um problema que não criou, a filiação, fora do prazo, de seu vice, André Cecchini (Patriota).
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