A forma como a Câmara de Vereadores conduz o processo de impeachment do prefeito Nelson Marchezan não deixa de ser um recado para seu sucessor: ou joga o jogo ou pode ser afastado, mesmo sem crime de responsabilidade. O impeachment deixou de ser o último remédio para afastar governantes corruptos. Virou instrumento político de vingança contra os que não dialogam, não cedem ou fazem um governo impopular.
Como se viu no caso da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e agora do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), o crime é “não dialogar”. Marchezan não está ameaçado de perder o mandato a menos de dois meses do final por corrupção ou um delito que justifique o afastamento e a perda do direito de disputar eleições. Os vereadores querem puni-lo porque é ruim de conversa, isolou-se na prefeitura e não cedeu o suficiente no jogo político (leia-se nas indicações para cargos estratégicos).
Todos os que disputam a prefeitura com Marchezan deveriam tentar mostrar que são mais capazes de administrar Porto Alegre, em vez de fomentar, por meio de seus vereadores, um processo de impeachment que envergonha a história da Câmara. Viciado, frágil nas acusações, o processo escancarou o interesse em excluir Marchezan da disputa eleitoral, pela forma como a Comissão Processante atropelou os ritos.
O prefeito foi à Justiça, ganhou sete liminares ou sentenças favoráveis, de juízes diferentes, todas derrubadas pelo desembargador Alexandre Mussoi Moreira. A menos que consiga vitória nas instâncias superiores da Justiça, Marchezan deve ser julgado na semana que antecede a eleição.
A tendência é de que seja cassado porque, mesmo estando atrás de Manuela D’Ávila (PCdoB), José Fortunati (PTB) e Sebastião Melo (MDB), ainda é competitivo e o interesse dos vereadores alinhados com os adversários é tirá-lo do jogo.
Não bastassem os sucessivos depoimentos de testemunhas mostrando que o prefeito agiu dentro da lei ao usar recursos do Fundo Municipal de Saúde para custear campanhas publicitárias, o prefeito ganhou, na sexta-feira, um atestado de idoneidade do Ministério Público, em outro episódio da guerra travada contra ele na Câmara. Trata-se do pedido de arquivamento do relatório da CPI que o acusa de advocacia administrativa, tráfico de influência, improbidade administrativa, corrupção passiva, dispensa de licitação e conflito de interesses. O promotor mandou arquivar porque não encontrou provas de que o prefeito tenha cometido esses crimes.
ALIÁS:
É curioso que Manuela D’Ávila e seu vice, Miguel Rossetto, que chamavam de golpe o impeachment da presidente Dilma Rousseff, calem-se diante do que a Câmara está fazendo com Marchezan. Ou será que é por que o prefeito está provando do próprio veneno, já que votou pelo afastamento de Dilma?
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