Só uma reviravolta de última hora impedirá que a Câmara de Porto Alegre aprove, nesta quarta-feira (5), a abertura de um processo de impeachment contra o prefeito Nelson Marchezan. Os adversários do prefeito foram dormir com a certeza de que terão mais do que os 18 votos necessários para abrir o processo.
Para aprovar o afastamento são necessários 24 votos, número que não será difícil reunir, dado que a base de Marchezan na Câmara se esfarelou e antigos aliados estão de olho na sua cadeira.
Em plena pandemia, quando a cidade deveria estar unida no enfrentamento ao coronavírus, o que ocorre na Câmara é um movimento que mistura oportunismo, interesses eleitoreiros e vingança.
Este é o sexto pedido de impeachment que a Câmara aprecia. O objeto é o uso de R$ 3,1 milhões do Fundo Municipal da Saúde em publicidade, que, segundo o prefeito, os próprios vereadores avalizaram quando da aprovação do orçamento.
Qual o sentido de um processo de abrir um processo de impeachment a menos de cinco meses do término do mandato? Fazer o prefeito sangrar e chegar mais desgastado do que já está ao dia da eleição ou, se atropelar os prazos, aprovar o afastamento, tornando Marchezan inelegível por oito anos.
Seria mais digno tentar derrotar o prefeito nas urnas, mas os pré-candidatos que embarcaram na aventura estão assinando confissão de que preferem tentar chegar ao Paço por um atalho.
A adesão ao requerimento protocolado por Nair Berenice da Silva, Andrea Glashhester Pires Weber, Carlos Frederico Bandt e Fernanda da Cunha Barth soa estranha para quem não conhece os interesses envolvidos na Câmara. Quem acompanha o dia a dia do Legislativo municipal sabe que os vereadores têm outro motivo para se vingar de Marchezan: o prefeito não liberou, até agora, o dinheiro das emendas impositivas. Mais do que isso, tentou, sem sucesso, impedir que cada vereador tivesse R$ 1 milhão em emendas para gastar em seus redutos eleitorais.
Empresários descontentes com as restrições à atividade econômica no enfrentamento ao coronavírus estão fazendo lobby junto aos vereadores porque temem que a exposição de Marchezan nos meios de comunicação, falando sobre a pandemia, possa garantir a reeleição. Reclamam das restrições à atividade econômica e defendem o afastamento do prefeito, mesmo sabendo que o processo pode se estender até depois da eleição.
Quem deverá garantir a abertura do processo não é nem a esquerda, adversária tradicional do prefeito. São seus antigos aliados, que têm pelo menos quatro pré-candidatos à prefeitura. Somando-se antigos aliados e adversários tradicionais de Marchezan, os pré-candidatos a prefeito teriam, juntos, 29 votos.