A resistência do prefeito Nelson Marchezan às pressões de empresários para reabrir a economia provocou uma onda sem precedentes de ataques a um administrador público em Porto Alegre. Em grupos de WhatsApp, trama-se o impeachment do prefeito, tendo por base um requerimento protocolado no final da semana passada por Nair Berenice da Silva, Andrea Glashhester Pires Weber, Carlos Frederico Bandt e Fernanda da Cunha Barth.
A admissibilidade do impeachment deve ser apreciada pela Câmara nesta quarta-feira (5), já que todos os pedidos — tenham ou não fundamento — são levados a plenário. Os autores querem o afastamento do prefeito por ter usado R$ 3,1 milhões do Fundo Municipal de Saúde em anúncios publicitários.
Em ofício ao presidente da Câmara, Reginaldo Pujol (DEM), Marchezan defendeu a legalidade do uso dos recursos em ações de divulgação e lembrou que os valores foram aprovados pelos próprios vereadores na votação do orçamento.
Um dos empresários forneceu os contatos dos vereadores para que os colegas encaminhassem mensagens. O texto padrão sugerido diz: “Bom dia fulano. Sou empresário, eleitor e morador de Porto Alegre. Protocolamos um pedido de impeachment contra o Marchezan na Câmara. Gostaria de saber qual a sua posição sobre o assunto”.
O problema não é empresários descontentes com a gestão de Marchezan pressionarem pela aprovação de um processo de impeachment a menos de cinco meses do final do mandato. Faz parte do jogo político. Grave é o tom desrespeitoso das mensagens, com ataques ao prefeito e até a sua esposa, Tainá Vidal.
O nível de algumas mensagens de ataque pessoal é tão baixo que a coluna, em respeito aos atingidos e ao público em geral, optou por não divulgá-las, embora tenha recebido as cópias. Um empresário que reside na Flórida (Estados Unidos) repassou montagens com fotos da primeira-dama que têm potencial para um processo por danos morais.
Os autores das críticas mais virulentas não são os líderes das entidades empresariais que vêm negociando com a prefeitura e que apresentaram uma proposta alternativa à abertura gradual das atividades por duas semanas, com fechamento radical por sete dias na semana seguinte. Esses, com a responsabilidade que têm, rejeitaram a proposta e fizeram críticas públicas.
Os ataques rasteiros ocorrem em mais de um grupo de WhatsApp. No grupo do PACC GOURMET (de sócios do Country Club), um empresário escreve: “Marchezan Jr. precisa urgentemente ser interditado. Sua equipe precisa ser imediatamente substituída. Porto Alegre assiste ao caos gerado por um prefeito que parece um Napoleão de hospício”.
Outro diz que a proposta de Marchezan “vai quebrar tudo”. E opina: “O pior q teremos do Covid será o precedente de autoritarismo q se abriu para os governantes cercearem as liberdades e intervirem na vida das pessoas. Isso tende a se repetir”.
Presidente do Country Club repudia ataques ao prefeito
O presidente do Porto Alegre Country Club, Christian Kroeff Saboya, esclarece que o grupo de sócios que fez ataques ao prefeito Nelson Marchezan em um grupo denominado PACC GOURMET não representa a instituição, uma das mais tradicionais da Capital.
_ Esse é um grupo de associados e não associados, que se reúne uma vez por semana no nosso clube, mas não fala pelos sócios. Nosso clube é apolítico, temos o golfe como carro-chefe e não concordamos com ataques ao prefeito ou a qualquer governante.
Christian lamenta que integrantes do grupo que usa o nome do Country tenha criado constrangimento aos demais sócios, atacando o prefeito e difamando a primeira-dama.