
O pacote de projetos que o prefeito Nelson Marchezan encaminha à Câmara nos próximos dias é mais ousado do que as medidas que ele tentou, sem sucesso, aprovar no início do ano para salvar o transporte coletivo. Mesmo com a base aliada reduzida a pó depois do rompimento do PP e das dissidências verificadas em votações anteriores, o prefeito desafia os vereadores a repensarem Porto Alegre para os próximos anos.
— Muitos que reclamam da falta de protagonismo têm agora a chance de ajudar a preparar a cidade do futuro — pondera.
Como a coluna informou nesta terça-feira (2), as medidas vão do transporte coletivo à reforma da Previdência, passando por um programa de renda básica para as famílias mais vulneráveis, mudanças na educação, criação de um programa habitacional em parceria com a iniciativa privada e quebra do monopólio da Procempa, empresa pública que presta serviços na área de tecnologia.
O prefeito confia na mudança de postura dos vereadores como consequência da pandemia:
— O que era verdade e certeza no início deste ano, desmoronou. Impossível que ninguém tenha mudado de opinião depois de três meses de pandemia.
O pacote contém medidas com efeito de curto, médio e longo prazo. Como todos os partidos com assento na Câmara têm projeto de poder, como protagonistas ou coadjuvantes nas alianças em formação, projetos que pareciam condenados ao arquivo podem acabar sendo aprovados. Outros, como os da área social, deverão ser aprovados porque dificilmente um vereador terá coragem de rejeitar propostas de socorro a famílias afetadas pelo desemprego.
Antes da pandemia, Porto Alegre já tinha 50 mil desempregados. Mais 15 mil perderam o emprego nos últimos três meses e as previsões são de que outros 17 mil ficarão sem trabalho nos próximos meses.
Com o sistema de transporte coletivo a beira do colapso, Marchezan acredita que conseguirá aprovar propostas que a Câmara rechaçou no início do ano, mas seu projeto é mais amplo: desregulamentar o sistema, tirando da lei as amarras jurídicas que dificultam a adaptação em momentos de crise. A ideia é aprovar um plano de emergência para garantir a sobrevivência do sistema nos próximos dois anos e deixar que o próximo prefeito lance uma nova licitação, adaptada aos novos tempos.
A lógica é dividir o custo da passagem com quem anda de carro próprio ou em transporte por aplicativo, para que a população que depende do ônibus não fique sem opção:
— No mundo inteiro, o transporte público recebe algum tipo de subsídio. Como a prefeitura não tem dinheiro, teremos de dividir a conta com quem usa as ruas.
Aliás
Com a ocupação de leitos de UTI por pacientes da covid-19 estabilizada há mais de 40 dias, a prefeitura deve liberar novos setores na próxima semana.