O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Efetivado na presidência do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) na sexta-feira (15), o ex-diretor administrativo e financeiro da instituição, Cláudio Oliveira, esperou passar a tempestade causada pelo pedido de demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde para anunciar sua confirmação no cargo. Interino desde a saída do médico André Cecchini, que pediu afastamento no dia da demissão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, Oliveira diz que aguardou um "ambiente tranquilo" para divulgar a efetivação.
Ao contrário de outros ocupantes de funções de confiança, não esconde que assumiu o cargo por indicação política. Filiado ao DEM, foi alçado ao comando do maior complexo de saúde do Sul do país por designação do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, de quem foi assessor parlamentar na Câmara dos Deputados.
Formado em Administração, com pós-graduação em Administração Pública, também foi secretário municipal de Saúde de Turuçu, no sul do Estado, e administrador do Porto de Pelotas entre 2015 e 2019.
Nesta entrevista, concedida por telefone momentos depois de ser confirmado publicamente como presidente do GHC, Oliveira disse que pretende dar sequência no projeto de cargos e salários de servidores, em um plano de demissão voluntaria (PDV) e na proposta de benefício complementar, que tornará a aposentadoria de servidores em idade avançada mais atrativa. O médico também se posicionou contra a possibilidade de privatização do complexo hospitalar.
Leia os principais trechos da entrevista:
Sua indicação foi automática a partir da saída de André Cecchini? Como foi construída?
Não. Eu estive em Brasília no final de abril, com o (então) ministro da Saúde, Nelson Teich, e com o secretário-executivo (general Eduardo Pazuello), que hoje é o ministro interino. Fiz uma explanação da situação atual do grupo e a minha indicação foi feita pelo ministro Onyx Lorenzoni. Houve aprovação na semana passada, mas como teve a saída do ministro, aguardamos até esta segunda-feira par ter um ambiente tranquilo para a divulgação. Mas já estou presidente desde sexta-feira, no início da tarde.
Sua efetivação não tem relação com a saída do ex-ministro Nelson Teich?
Não, nenhuma. Tive uma conversa com ele em 30 de abril, onde ele ficou com todos os nossos dados da pandemia desde que começamos, em março, e foi feito convite para ele vir visitar o Estado. Nunca houve nenhum problema com o ministro Nelson Teich.
O senhor trabalhou com o ministro Onyx Lorenzoni. Sua indicação partiu diretamente dele?
Sim, eu já estava aqui por uma indicação dele no ano passado, em abril, e houve a indicação por parte do ministro Onyx para a direção.
O senhor já faz parte do corpo diretivo do hospital. Quais projetos novos pretende implementar?
Estamos trabalhando bastante desde abril de 2019. Há muitos projetos em que trabalhamos e vamos dar continuidade. Destaco três planos na área administrativa: o plano de cargos e salários, que está em análise na Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), ligada ao Ministério da Economia; o plano de demissão voluntária (PDV), no qual muitos trabalhadores têm interesse, que foi entregue à mesma secretaria; e iniciamos em março o estudo sobre um plano de benefícios complementares, pois os 9,2 mil empregados são celetistas e não têm um plano de previdência. Quem se aposenta sai somente com a aposentadoria do regime geral, por isso temos muitos funcionários em idade avançada.
E a possibilidade de privatização, cogitada recentemente? Sou o contato responsável no GHC junto ao Programa de Parcerias e Investimentos (projeto do governo federal para privatizações) e o que existe é uma proposta de parceria público-privada para o terreno e o prédio do Hospital Fêmina, que envolve a intenção de construir um novo hospital. O único projeto protocolado junto ao Ministério da Economia que relaciona o Grupo Hospitalar Conceição é esse. Não temos conhecimento de um projeto de privatização de todo o grupo. Sabemos que, sendo uma estatal federal, pode ser incluída, mas tem que ter estudos, tem que ter uma modelagem. E obviamente seremos chamados para discutir caso confirme essa informação.
Mas o que o senhor pensa de uma eventual de privatização do GHC?
O GHC tem um orçamento de mais de R$ 1,6 bilhão e presta um serviço essencial para a população. Vamos trabalhar para manter o GHC ainda estatal. Este é o posicionamento que vamos passar caso sejamos perguntados. Mas estamos falando em hipótese.
O que a sua gestão terá de diferente da última, da qual o senhor participou?
Prefiro não fazer uma comparação prévia. Trabalhamos em conjunto, em diretoria colegiada, somos três diretores. Sempre tive uma excelente relação com o doutor André Cechinni e não tenho nada para comparar. Cada um tem seu estilo, seu perfil. Acho que o tempo dirá.
Como está sendo coordenado o enfrentamento ao coronavírus no GHC?
Nós iniciamos o trabalho em janeiro, quando começaram os casos na China. Elaboramos um protocolo próprio para manejo desses pacientes. Em março, começaram os casos no país. Tivemos muita dificuldade de conseguir insumos e contamos com a boa vontade e o desprendimento de empresas que fizeram doações. Nunca faltou nenhum material, apesar de momentos de certa escassez e controle na entrega. Nossas equipes montaram mais 10 leitos de UTI no Hospital Conceição, e o Cristo Redentor equipou mais 18 leitos. Com isso, ficamos com um número razoável de leitos. Já tivemos 166 pacientes confirmados, com 10 óbitos até esse momento.
O que pretende mudar, em termos de gestão?
O GHC precisa se modernizar. Temos muitos programas e softwares que precisão de manutenção, porque são muito obsoletos. Precisamos colocar o GHC no século 21. E por se tratar de um grupo que atende 40% da população de Porto Alegre, queremos manter a boa relação do município, sempre com foco no paciente.