A solução salomônica adotada pelo governador Eduardo Leite está longe de ser a desejada pelos empresários que clamam pela liberação geral das atividades econômicas, mas é a considerada tecnicamente mais adequada para evitar a explosão de casos de coronavírus. Leite prorrogou até 30 de abril o decreto com restrições à atividade econômica, mas deixou a porta aberta para os que os prefeitos da maioria dos municípios afrouxem as normas por decretos próprios, levando em conta a situação específica de cada cidade.
Como ficam mantidas as restrições na Região Metropolitana e na Serra, que concentram 70% dos casos, a gritaria começou antes do término da apresentação, com ameaças de desobediência por comerciantes e críticas de líderes empresariais.
Pelas mensagens que corriam na tela enquanto Leite apresentava os motivos para o decreto, parecia que o problema não é o vírus, que paralisou as principais potências do planeta, mas as regras de isolamento social adotadas no sul do Brasil.
Entre o ônus de ser responsabilizado por um aumento exponencial dos casos sem que o Estado tenha conseguido preparar a rede hospitalar pelo aumento da demanda e a acusação de prejudicar a economia, Leite preferiu a segunda opção. Lembrou que Paraná e Santa Catarina, que largaram com menos casos do que o Rio Grande do Sul, hoje estão à frente porque em algum momento o se afrouxou o isolamento.
Mais de uma vez, o governador disse que reconhecia o enorme sacrifício que os gaúchos estão fazendo, pessoal e profissionalmente, para garantir o achatamento da curva e salvar vidas. A abertura gradual, chamada de distanciamento controlado, funcionará como uma espécie de válvula nos próximos 15 dias. Conforme a evolução dos casos, levando em conta as internações, a disponibilidade de leitos e o número de mortes, pode-se abrir mais ou apertar as restrições.
Os prefeitos de cidades fora das regiões Metropolitana e Serra terão de ser bastante criteriosos para evitar que a vantagem competitiva de hoje se transforme em motivo de fechamento drástico se a situação sair do controle. Medidas de proteção aos trabalhadores e aos clientes terão de ser adotadas sob pena de responsabilização futura.
Convém lembrar que na semana passada já foram flexibilizadas algumas atividades, deixando a critério dos prefeitos a decisão sobre liberar atividades como lancherias, restaurantes, salões de beleza e academias de ginástica. A indústria já começou a retomar a produção, mas em ritmo lento.
Os próximos 15 dias serão cruciais para o acompanhamento da evolução dos casos no Rio Grande do Sul. A pressão dos comerciantes e prefeitos de parte dos municípios da Serra e da Região Metropolitana tende a crescer nos próximos dias, até porque o decreto do governador cria uma situação estranha para cidades de regiões vizinhas. Na prática, ocorrerá de uma cidade ser obrigada a manter o comércio fechado e a vizinha, do outro lado do rio, retomar as atividades a pleno vapor.
Aliás
Não há justificativa para 36 dos 300 hospitais gaúchos ainda não terem fornecidos informações sobre número de leitos, vagas em UTIs e pacientes internados com suspeita ou confirmação de covid-19.