Não que a direção do PSOL morra de morra de amores pelo presidente Jair Bolsonaro, mas o pedido de impeachment subscrito pela deputada gaúcha Fernanda Melchionna e por outros dois parlamentares foi desautorizado pela executiva do partido. Os líderes nacionais do PSOL sabem que chance de o requerimento prosperar é próxima de zero.
Mesmo com o crescente descontentamento de antigos aliados em relação ao comportamento do presidente, um pedido de afastamento agora, vindo da oposição mais aguerrida, soa como oportunismo.
De mais a mais, o impeachment só prospera quando há disposição por parte do presidente da Câmara de levá-lo adiante e pressão das ruas. Hoje, não há nem uma nem outra. O processo de desgaste de Bolsonaro está recém no início.
Em nota, a direção diz que foi surpreendida pela participação de membros de sua bancada na Câmara no pedido de impeachment do presidente, porque o partido está “debatendo a melhor tática para enfrentar a irresponsabilidade do governo Bolsonaro”.
“Por essa razão, a iniciativa causa indignação porque atropela o debate interno do PSOL e do conjunto da oposição”, diz o comunicado.
Também em nota, Melchionna negou que a iniciativa tenha sido desautorizada.
Confira a íntegra da manifestação:
"A Executiva Nacional do PSOL foi surpreendida, nesta quarta-feira, com a participação de membros de sua bancada na Câmara dos Deputados no pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro protocolado hoje. O partido está, nas suas instâncias e bancada, debatendo a melhor tática para enfrentar a irresponsabilidade do governo Bolsonaro. Por essa razão, a iniciativa causa indignação porque atropela o debate interno do PSOL e do conjunto da oposição.
Consideramos que o momento é gravíssimo e a prioridade deve ser a defesa de medidas que salvem vidas, como aquelas apresentadas pela bancada justamente hoje. O presidente Bolsonaro cometeu vários crimes de responsabilidade. Há, portanto, base jurídica para o impeachment. No entanto, o impeachment é também um processo político que precisa ganhar os corações e mentes do povo brasileiro. Além disso, não pode ser construído de forma individual. Se queremos derrubar Bolsonaro, essa deve ser uma proposta construída coletivamente. Nesse momento, portanto, a tarefa da oposição é ampliar o crescente repúdio ao governo Bolsonaro e mobilizando amplas forças sociais para a assegurar a proteção dos mais vulneráveis ao coronavírus.
Por essa razão, o foco do PSOL e da oposição deve ser a defesa de ações enérgicas do Estado para a proteção dos mais pobres, a economia e o emprego, salvar vidas e superar a epidemia. Iniciativas individuais, isoladas e voluntaristas, não ajudam na luta contra Bolsonaro. Não reconhecemos, em nome do PSOL, esta medida unilateral. Seguiremos debatendo, nas instâncias partidárias e na bancada, as medidas adequadas para enfrentar a crise.
Executiva Nacional do PSOL
18 de março de 2020"
Nota de esclarecimento de Fernanda Melchionna
"Sobre o texto opinativo publicado hoje no blog de Rosane de Oliveira em gauchazh.com.br, a deputada federal Fernanda Melchionna e a direção do PSOL no Rio Grande do Sul esclarecem que a direção nacional do PSOL não desautorizou a iniciativa dos parlamentares, mas que há uma parte dela que não está de acordo a entrada neste momento.
Não houve sequer reunião da Executiva Nacional do PSOL para deliberar sobre o tema, o que deve acontecer apenas na sexta-feira. O assunto foi tratado na bancada do PSOL em inúmeras reuniões e não se chegou a um acordo entre todos. Entretanto, de acordo com o Regimento da Casa e do Estatuto do PSOL, os parlamentares não necessitam ter uma única posição, desde que não contrariem o Programa do Partido.
Além disso, a peça protocolada é assinada por inúmeros intelectuais e artistas, além de Fernanda, Sâmia Bomfim e David Miranda, respondendo a um sentimento de uma grande parte do povo, frente à inépcia do Presidente Bolsonaro em meio à crise do Coronavírus, expressa nos panelaços de ontem e nas pesquisas de opinião realizadas nos últimos dias. Sendo assim, os parlamentares agiram em consonância com as regras estabelecidas na bancada federal e estão respaldados por inúmeros diretórios por todo o país que saudaram a iniciativa."