Tinha 17 anos quando conheci o mar. Para comemorar o final do curso de Magistério, minha turma na Escola Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Tapera, se cotizou para fazer uma excursão à praia. Investi meu primeiro 13º salário no que viria a ser minha paixão pelo resto da vida: viajar.
O prefeito João Maximiliano Batistella entendeu que aquelas futuras professoras mereciam conhecer o mar e cedeu o ônibus que durante o ano transportava estudantes do interior. A única exigência era que pagássemos o combustível e as despesas do motorista.
Era início de dezembro de 1977 e a temporada ainda não começara. Ninguém achava que pudesse haver alguma coisa errada em ceder um ônibus para trinta e poucas normalistas realizarem um sonho e não precisarem ensinar sobre o mar a seus futuros alunos sem jamais tê-lo visto. Hoje talvez virasse um escândalo, mas naquela época pareceu razoável ao prefeito que o motorista viajasse sem diárias. Afinal, também ele iria ver o mar e passar uma semana como se estivesse em férias.
Alugamos uma casa em Capão da Canoa e a transformamos em acampamento. Nos dividimos em grupos para cozinhar e lavar a louça, porque o dinheiro não dava para restaurantes. Viajamos a noite toda e chegamos ao amanhecer. Lembro do encantamento dos que viam o mar pela primeira vez com o vaivém das ondas e aquela imensidão de areia branca. Em cores, eu só conhecia o mar azul das fotos da revista Manchete e achei estranho que o nosso fosse tão diferente, mas tomamos banhos e banhos, tremendo de frio.
Tiramos um dia para ir a Torres, que já ostentava o título de mais bela praia do Rio Grande do Sul. Foi o ápice daquela viagem inesquecível. A água era de um azul esverdeado, como a de Búzios e Cabo Frio, sempre retratadas na Manchete.
Nas pedras que separam a Praia Grande da prainha tiramos as únicas fotografias da excursão. Vinham em um monóculo, tecnologia que impressionou particularmente as colegas que, como eu, haviam crescido na roça. Essas fotos precárias mostram meninas magrelas, vermelhas feito camarões, exibindo o resultado da exposição ao sol sem qualquer tipo de proteção. Se descascamos depois, minha memória apagou esse registro para guardar somente a parte mágica, como a das paisagens da Guarita e do Morro do Farol.
Volto a Torres com frequência e nos últimos anos vejo brotarem edifícios imensos no lugar das antigas casas. Neste feriadão da Proclamação da República, aluguei um apartamento no 20° andar, com “vista oceânica”, segundo a descrição no site. De fato, vê-se o mar acima dos edifícios, mas o mais impressionante é o jeito de cidade grande que Torres tem agora, vista de cima. Um prédio vai tirando a vista do outro e há tantos e tão grandes em construção que, no futuro, é capaz de faltar areia para tantas cadeiras e guarda-sóis. Capão, que em 1977 tinha jeito de aldeia, mudou seu plano diretor antes de Torres e há muito já virou o que a gente lá no Interior chamava de selva de pedra.