Está terminando a colheita de trigo na minha terra.
Um campo de trigo é uma obra de arte. Os mestres da pintura que tentaram retratá-lo produziram quadros extraordinários, mas bom mesmo é a assistir a esse espetáculo ao vivo, sem filtros.
Poucas imagens me são mais caras do que o contraste entre o campo dourado e o céu azul com nuvens de algodão. O cheiro do trigo recém-cortado me remete a uma infância em que tudo vinha da terra e nada se igualava ao pão feito daquele grão colhido com as mãos. Ser fruto da agricultura familiar me faz ter um respeito imenso por esses homens e mulheres de mãos calejadas que produzem alimentos.
O sol, a chuva, os temporais, as fases da lua e as mudanças de estação têm significado especial para quem da terra tira o sustento. Entre plantar e colher há um tempo de cuidar e esse verbo, desde muito cedo, faz parte das nossas vidas.
A vida no campo nos faz resistentes. Aprendemos a não sucumbir quando uma chuva de granizo destrói a lavoura. Aprendemos a não chorar quando uma ventania arrasa o pomar. Aprendemos a proteger as plantas e os animais. Aprendemos a respeitar os ciclos da vida.
Deixei esta terra há 40 anos para estudar na Capital, sem planos de voltar, mas nunca rompi os laços que me prendem ao campo. Sempre que volto é como se nunca tivesse partido. De tempos em tempos, preciso sentir o cheiro do trigo, da lavoura de milho depois da chuva, das araucárias que chamamos de pinheiro, da terra lavrada para o plantio.
A terra me dá energia para enfrentar as tormentas urbanas, que não são poucas nestes tempos de ânimos exaltados.