Sem ler qualquer discurso, o governador Eduardo Leite usou a tribuna da Assembleia nesta terça-feira (5) para, além de defender a retirada da Constituição da necessidade de plebiscito para privatizar estatais, recapitular o que avalia ser necessário para tirar o Rio Grande do Sul do buraco. Leite não se comoveu com as vaias de servidores que ocupavam as galerias do plenário – ao contrário: apelou para que os parlamentares escutassem eleitores que não estavam na cerimônia que abria o ano legislativo gaúcho.
– Peço aos senhores que não ouçam apenas os grupos que aqui se manifestarão, mas que escutem o silêncio de uma maioria do povo gaúcho, que aguarda os resultados das urnas, da nossa tomada de decisões – discursou, se referindo às eleições de 2018, quando dois candidatos com o mesmo plano de gestão para o Estado foram para o segundo turno.
As vaias não são sinal de que o governo terá dificuldades para aprovar proposta de emenda à Constituição (PEC) que extingue a necessidade de plebiscito para federalizar ou vender empresas públicas. Confiante do novo perfil dos deputados da Assembleia, o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, diz que o governo tem mais de 33 votos favoráveis ao projeto. E não é difícil concordar com a afirmação: a maior parte dos parlamentares faz parte de partidos da base de Leite e um grupo considerável tem perfil privatista. Os mais otimistas preveem cerca de 40 votos favoráveis.
O líder do governo Sartori na Assembleia, deputado Gabriel Souza (MDB) admite que, como o assunto vem sendo tratado desde 2015, a expectativa é de que a bancada do MDB, uma das maiores da Casa, com oito integrantes, vote a favor da PEC:
– É difícil o partido do governador José Ivo Sartori, que sabe da necessidade de privatizar essas estatais, votar contra essa emenda.
A oposição, que mantém diálogo com Leite, mas já manifestou contrariedade à extinção de plebiscito, conta com pelo menos nove votos (oito parlamentares do PT e uma do PSOL). O PDT, por ser o autor da emenda constitucional que exige o plebiscito para privatizar, também dará seus quatro votos contrários ao texto do Palácio Piratini. Outros contrários virão de dissidentes de legendas aliadas, o que, por enquanto, é difícil contabilizar.
A partir desta quarta-feira (6), o governador vai até os sindicatos de servidores da administração direta para explicar qual o seu plano para as carreiras do Estado. Por enquanto, não está na agenda de Leite encontro com celetistas da CEEE, Sulgás e CRM, empresas atingidas pela intenção de privatização.