Acostumado com a vida corporativa e habituando-se a um novo ofício para o qual foi eleito, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, 55 anos, administra a tragédia humana que até o mais experiente dos políticos teria dificuldades de gerir.
Na sexta-feira, horas após o rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho, o empresário, que virou governador como símbolo de novidade na gestão pública, foi afobado em dizer que os bombeiros encontrariam “somente corpos” enquanto as buscas a ilhados e feridos continuavam. Em seu pronunciamento, antecipou-se:
– Neste momento não estamos apurando causas. Este não é o foco.
No sábado, após sobrevoar a área afetada com o presidente Jair Bolsonaro (foto acima), foi enfático ao prometer que culpados seriam responsabilizados e cobrou mudanças na lei.
– Os envolvidos serão punidos exemplarmente. Todas as medidas judiciais já foram acionadas, recursos bilionários foram bloqueados, de forma que a punição seja exemplar. Protocolos e legislação terão de ser revistos, essa barragem que rompeu estava inativa há anos e não recebia mais nenhum tipo de material. Não podemos ficar sujeitos a esse tipo de coisa novamente. Tanto os critérios federais como os estaduais, provavelmente, terão de ser revistos depois dessa tragédia – enfatizou.
Em três anos, duas barragens de rejeitos de minério romperam-se em Minas Gerais. A inércia do poder público, que não fiscaliza, não é rígido suficiente para proteger trabalhadores e moradores e demora a punir os responsáveis, não garante que um novo desastre não aconteça.
Com pouco mais de 20 dias de mandato no Executivo, Zema enfrenta uma tragédia que coloca em xeque sua capacidade como governante e articulador. Além do déficit de R$ 30 bilhões nos cofres de Minas Gerais e do ajuste fiscal, problemas que garantiu tentar resolver, o governador agora deve eleger como prioridade a atenção às centenas de atingidos e familiares que procuram por alguma notícia de seus parentes desaparecidos.
Neste domingo, Zema foi até a um hospital que recebe sobreviventes e colocou o Estado à disposição das vítimas.
– Minha tia fez um apelo ao governador de que não fique desamparada quando receber alta. Ela precisa de roupas e moradia, já que perdeu tudo – disse ao jornal Folha de S.Paulo Isabella Guimarães, sobrinha de uma mulher que teve a casa soterrada pela lama tóxica.
Segundo Isabella, Zema prometeu providenciar hotel onde sua tia possa ficar num primeiro momento e depois uma casa mobiliada.
O resultado da liderança do governador mineiro será avaliado ao longo dos meses. Ele, que concorreu acreditando que conseguiria colocar em ordem as finanças do Estado, agora se vê diante de uma tragédia que nem em seu pior pesadelo esperava enfrentar.