A tragédia de Brumadinho mostra que o Brasil nada aprendeu com o desastre ambiental de Mariana, três anos atrás. Como os responsáveis não foram punidos, os processos se arrastam lentamente e o máximo que aconteceu à Samarco foi desembolsar algum dinheiro (pouco perto do prejuízo que causou), é legítimo o temor de que a impunidade faça novas vítimas daqui a pouco.
Em um país que trata as preocupações ambientais como “mimimi”, coisa de “xiitas” e “ecochatos” contrários ao desenvolvimento, a dúvida é onde e quando ocorrerá o próximo desastre. Três anos depois do rompimento da barragem de Fundão, o solo rasgado pela lama contaminada de rejeitos da mineração ainda não tinha cicatrizado e o rio Doce seguia o longo período de convalescença quando o país foi sacudido pela notícia de uma nova tragédia.
Desta vez, foi a barragem do Feijão, da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao final da tarde se saberia que havia 300 trabalhadores no escritório e no restaurante da empresa e que cerca de 200 continuavam desaparecidos. Imagens de homens, mulheres e animais cobertos de lama, casas e carros soterradas e de toneladas de rejeitos descendo o Córrego do Feijão e depois o rio Paraopebas, em direção ao São Francisco, correram o mundo.
O tamanho do estrago só poderá ser medido nos próximos dias. Pelo roteiro conhecido, veremos repetir-se o jogo de empurra, as desculpas esfarrapadas, as promessas de ajuda à população atingida, os anúncios de investigação rigorosa e de medidas para evitar que outras barragens se rompam.
Perguntado se a Vale aprendeu alguma lição com o desastre de Mariana, o presidente da empresa, Fábio Schvartsman, foi sincero:
– Como vou dizer que a gente aprendeu se acaba de acontecer um acidente desses? O que posso dizer foi o que a gente fez depois do acidente. Viramos todas as barragens do avesso e contratamos as melhores auditorias do mundo para verificar o estado de todas elas. Fizemos tudo que a gente entende que era possível para garantir a segurança e a estabilidade. O fato é que não sabemos o que aconteceu e o que ocasionou, mas certamente vamos descobrir.
A reação do governo federal foi rápida e coordenada. Neste sábado, o presidente Jair Bolsonaro irá a Minas, oferecer apoio ao governador Romeu Zema e às famílias atingidas. A celeridade mostra que Bolsonaro aprendeu com o erro da então presidente Dilma Rousseff, que acompanhou a crise de seu gabinete e só sobrevoou a região afetada sete dias depois.
Para além das providências imediatas, que podem mitigar o sofrimento dos atingidos, há que se adotar medidas que obriguem as empresas a prevenir futuros desastres ambientais, em Minas ou em qualquer outra parte do território brasileiro. A chuva pode ter contribuído para a catástrofe, mas é preciso responder perguntas elementares: o órgão estadual que deu a licença cumpriu todos os protocolos? A fiscalização foi adequada? A Vale fez a sua parte? Quem falhou?