Foi na greve dos caminhoneiros, em maio deste ano, que o Brasil descobriu a força de uma ideia que se imaginava sepultada: os pedidos de intervenção militar se multiplicavam nos piquetes e nas manifestações à beira das rodovias.
A despeito da fragilidade do governo de Michel Temer, os comandantes militares se mantiveram serenos, ajudaram na solução do impasse e a vida seguiu seu curso. A semente plantada nos últimos anos e adubada pelos escândalos de corrupção germinou, cresceu e floresceu na campanha. O sentimento represado explodiu na forma de votos em Jair Bolsonaro, que tinha entre suas principais credenciais o título de capitão reformado do Exército e um general quatro estrelas no posto de vice.
A formação inicial do governo Bolsonaro mostra que a “intervenção militar” veio pelo voto. Reportagem do jornalista Humberto Trezzi mostra que os militares terão mais representantes no futuro governo do que nas gestões da maioria dos generais-presidentes.
Ainda que as relações entre o presidente eleito e o vice não sejam as mais amistosas, o general Hamilton Mourão tem poder. E vice é indemissível.
Bolsonaro não só indicou sete militares entre os 21 ministros já anunciados como está preenchendo postos-chave no segundo escalão com homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Os militares formam uma espécie de rede de proteção no Palácio do Planalto. O presidente terá, de um lado, o general Augusto Heleno no comando do Gabinete de Segurança Institucional e, do outro, o general Santos Cruz na Secretaria de Governo. No primeiro e no segundo escalões, os militares dominam as áreas estratégicas e, portanto, mais vulneráveis à corrupção ou são avalistas dos escolhidos: minas e energia, privatizações e infraestrutura, por exemplo. Até para o setor de compras do Ministério da Saúde o cotado é um general que já foi diretor do Hospital do Exército.