Escolhido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para o ministério da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas é capitão reformado, com passagem pela Academia Militar das Agulhas Negras — mesmo local onde Bolsonaro fez a sua formação no Exército. Na segunda-feira (27), o general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi anunciado na Secretaria de Governo.
Questionado sobre a função da secretaria, Bolsonaro afirmou que manterá o status de ministério, responsável pela articulação política com o Congresso. A indicação do general Santos Cruz causou surpresa, até mesmo, em aliados.
— É uma pessoa que vocês vão se surpreender no trato com parlamentares — acredita o presidente eleito, destacando que a missão de conversar com o Legislativo será compartilhada com outras áreas.
A escalação de Santos Cruz para a interlocução com deputados e senadores foi entendida de duas maneiras por integrantes da equipe de transição. A primeira seria tentativa de evitar negociações que envolvam o "toma lá, dá cá" por apoio a projetos. Parlamentares poderiam ficar constrangidos em propor esse tipo de acordo a um militar. A segunda seria equilibrar o poder civil e da caserna dentro do governo, diminuindo a influência política do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Santos Cruz fecha a trinca militar do primeiro escalão que atuará no Palácio do Planalto, despachando a poucos metros de Bolsonaro. No Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estará o general Augusto Heleno, um dos aliados mais próximos do futuro presidente.
Há ainda o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão (PRTB), que em mais de uma oportunidade avisou que não será um "vice decorativo" e poderá ficar com a coordenação dos ministérios — encolhendo mais o espaço de Onyx.
Fora do Planalto, estará o quarto militar do governo. O general Fernando Azevedo e Silva, ex-assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, assumirá o Ministério da Defesa.
Há outros ministros com passagens pelas Forças Armadas, mas que foram convidados para a futura administração por motivos técnicos ou políticos. É o caso do astronauta Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva da Força Aérea, primeiro brasileiro a ir ao espaço. Ele assumirá a área de Ciência e Tecnologia. Wagner Rosário, na Transparência, e Tarcísio Freitas, na Infraestrutura, também têm passagens pelo Exército, mas são técnicos reconhecidos em suas áreas.
Assim, são seis ex-militares em postos com status de ministério. Considerando Mourão, sete dos principais postos do governo são ocupados por egressos da caserna.
Mais ministérios
Defensor, durante a campanha eleitoral, da redução da estrutura de governo para 15 ministérios, Jair Bolsonaro (PSL) já admite que o número poderá chegar a 20. Após participar de reuniões com a equipe de transição nesta terça-feira (27), em Brasília, o presidente eleito afirmou que foi preciso reavaliar a divisão de responsabilidades.
— A gente vai vendo, até para uma governabilidade, que não podemos sobrecarregar demais uma pessoa em um ministério, então refizemos algumas coisas — afirmou.
Até o momento, 16 nomes foram confirmados para o primeiro escalão. O último foi o do engenheiro Tarcísio Freitas para o Ministério da Infraestrutura, que ficará responsável pelas áreas de transportes, portos e aviação civil. O Banco Central e a Advocacia-Geral da União (AGU) manterão o status de ministério.
O próximo titular do Meio Ambiente deverá ser definido nesta quarta-feira (28). Sem citar nomes, Bolsonaro relatou que está conversando com duas pessoas para o cargo, destacando que o desenho da equipe ministerial está "praticamente concluído".
Ainda não há a definição de quais pastas serão preservadas na estrutura do próximo governo. A tendência é de que algumas áreas mantenham estrutura de ministério, como Minas e Energia. A atual Desenvolvimento Social deve virar Cidadania, e Cidades e Integração Nacional poderão formar pasta única de Desenvolvimento Regional. Ainda não há definição sobre Esporte, Cultura, Turismo e Trabalho, que poderão ser incorporadas ou fundidas com outras áreas.
Negociação com bancadas temáticas
Refutando negociações com líderes partidários, Bolsonaro voltou a afirmar que seguirá discutindo apoio diretamente com as bancadas temáticas. Nesta terça-feira (27), recebeu parlamentares evangélicos na sede da transição de governo, em Brasília. O grupo teve influência na nomeação de Ricardo Vélez Rodríguez para a Educação e foi responsável pelo veto a Mozart Neves Ramos, não alinhado a pautas conservadoras, como o projeto Escola Sem Partido.
Duas bancadas já conseguiram emplacar nomes no futuro governo. A líder do grupo ligado ao agronegócio, deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), será a ministra da Agricultura. O também deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) será o ministro da Saúde, indicado por representantes da área.
Ainda integrando o rol de indicações pessoais, estão os dois superministros da futura estrutura governamental. Após flertar com o apresentador Luciano Huck, que desistiu de concorrer à Presidência, Paulo Guedes se aproximou de Bolsonaro e será o superministro da Economia. Apelidado de “Posto Ipiranga” pelo futuro chefe, tem carta branca para nomear sua equipe. Sergio Moro, responsável pelas primeiras condenações da Operação Lava-Jato, colará ao futuro governo a marca do combate à corrupção.