Campanha eleitoral não é tempo de romantismo nem o melhor momento para se fazer apelos à moderação, mas a crise do Rio Grande do Sul é tão profunda que cabe uma reflexão sobre a necessidade de quebrar a lógica do conflito. Mais do que um pacto, palavra desgastada por insucessos anteriores, ou governo de coalizão, que soa a loteamento de cargos, o ideal seria os líderes políticos do Estado se unirem em torno de um projeto que contemple as melhores ideias, seja quem for o vencedor da eleição de domingo.
Por mais que os ânimos tenham se acirrado na disputa eleitoral e que o debate nas redes sociais tenha descambado para a baixaria, Eduardo Leite e José Ivo Sartori têm a mesma raiz. Só não foram companheiros de partido porque quando o PSDB nasceu de uma costela do PMDB, em 1988, Leite recém tinha completado três anos.
Nos anos seguintes, PMDB e PSDB estiveram juntos em vários governos. Pela primeira vez enfrentam-se em um segundo turno no Estado e não há diferenças profundas em suas propostas. Por que não pensar em unir forças por uma causa maior? Era isso o que o governador queria quando tentou manter na mesma chapa todos os partidos que estavam no seu governo, mas cada um achava que tinha a pessoa certa para encabeçar a chapa.
Um hipotético governo suprapartidário poderia abrigar também partidos derrotados na eleição, como o PDT, e os eleitos por siglas que não tinham representação na Assembleia, como Novo e PSL. Não significaria dizer amém a tudo o que o governador propusesse, mas unir forças para aprovar os projetos necessários e ajudar a construir um cenário favorável ao crescimento da economia. Ao PT e ao PSOL caberia o necessário papel fiscalizador da oposição.
Se o empecilho para uma construção desse tipo é a disputa de 2022, a solução é simples. Vencendo Sartori, ele não pode mesmo disputar um terceiro mandato. Se Leite ganhar, poderia se comprometer a não disputar a reeleição, como fez em Pelotas, de livre e espontânea vontade.
Quem se eleger governador terá de montar um time de alto nível, com pessoas que conheçam a área em que vão atuar, sem se deixar levar pela pressão dos partidos que querem acomodar quem não conseguiu se eleger deputado.