Com a direita sem candidato a governador e a esquerda dividida, o centro – que foi mal na eleição presidencial – conseguiu emplacar os dois finalistas no Rio Grande do Sul: Eduardo Leite, 33 anos, que nasceu para a política já no PSDB e o governador José Ivo Sartori, 70 anos, militante do MDB desde o tempo do bipartidarismo. Como o PSDB nasceu de uma costela do então PMDB, pode-se dizer que os gaúchos escolheram dois políticos da mesma vertente para governar o Estado nos próximos quatro anos. Mesma vertente e propostas semelhantes no essencial: a favor das privatizações (excluído o Banrisul), do acordo de recuperação fiscal, da busca do equilíbrio das contas públicas e da renovação do aumento do ICMS, aprovado em 2015. Em relação ao ICMS, a diferença é que Sartori propõe a renovação por tempo indeterminado e Leite por dois anos.
O governador e o tucano são dois políticos da mesma vertente e com propostas semelhantes para o Estado.
O primeiro lugar de Leite era esperado por quem acompanhou a evolução das pesquisas. A curva se manteve ascendente desde o segundo levantamento, quando saiu de 8% na metade de agosto para 18% na primeira semana de setembro. Depois passou para 25%, 26%, 30% e 34% no Ibope divulgado sábado à noite, o que significa 38% dos votos válidos. Seu índice de rejeição nunca passou de 9%.
Na urna, fez 35%. Sartori largou na frente nas pesquisas, até por ser o mais conhecido entre os candidatos. Saiu de 19%, foi a 31% no levantamento divulgado em 21 de setembro e chegou à véspera da eleição com 28% (32% dos válidos). Contados os votos, fez 31%.
A explicação para o primeiro lugar de Leite pode ser a mesma de quando se elegeu prefeito de Pelotas, em 2012: jovem, moderado, ficha- limpa, com uma singular capacidade de comunicação e um discurso moderno. Apesar de a prefeitura de Pelotas ser considerada uma espécie de máquina de moer carne, pela falta de recursos, Leite conseguiu sair com dois triunfos na mão: uma avaliação positiva sem precedentes e a eleição, em primeiro turno, de sua vice, Paula Mascarenhas. A decisão de não concorrer à reeleição abriu caminho para disputar o governo do Estado.
No domingo, entrevistado na Rádio Gaúcha, o tucano citou os fatores que explicam seu sucesso nas urnas:
– Eu acredito em alguns “esses” na campanha eleitoral: sola de sapato, saliva, santinho e sinceridade. Fiz uma campanha absolutamente respeitosa (com os adversários) e sincera. Em nenhum momento prometi coisas que não posso cumprir e sempre falei dos problemas do Estado, especialmente das finanças.
Sartori pode se considerar vitorioso só por ter chegado ao segundo turno. Com as finanças estranguladas, não teve muito o que mostrar na campanha. Aprovou projetos impopulares para os servidores públicos, está pagando os salários com algum atraso desde junho de 2015 e manteve-os congelados por todo o mandato, com exceção dos aprovados na gestão de Tarso Genro para a segurança.
A campanha conseguiu reduzir o índice de rejeição de Sartori, que começou em 44% e chegou à véspera da eleição em 31%. O coordenador de comunicação da campanha, jornalista José Antônio Vieira da Cunha, sintetiza a classificação para a final:
– Sartori chegou ao segundo turno graças ao que exibiu na campanha. É um capital formado pelas realizações do governo e por sua credibilidade enquanto homem público que, em 40 anos de atividade política, exibe um currículo irrepreensível.