Os servidores estaduais sentirão no bolso os efeitos da queda na arrecadação de impostos causada pela greve dos caminhoneiros. De acordo com informações extraoficiais, o depósito de sexta-feira (29) contemplará, no máximo, quem ganha até R$ 2 mil líquidos. Os números de receita e despesa serão detalhados hoje à tarde pelo secretário da Fazenda, Luiz Antônio Bins, que apresentará uma proposta de calendário de pagamento da folha de julho.
No último dia de maio, a Fazenda depositou os salários de quem ganha até R$ 3,5 mil. A folha terminou de ser quitada em 13 de junho. No mês anterior, graças à venda de ações do Banrisul, receberam na primeira leva os servidores com vencimento líquido de até R$ 4,5 mil. O último grupo foi pago no dia 10 de maio.
A greve dos caminhoneiros provocou uma queda de arrecadação estimada em R$ 150 milhões. Para se ter ideia do que isso significa, com R$ 150 milhões em caixa seria possível quitar os salários até R$ 1,7 mil. O impacto na vida dos servidores vai além do encolhimento da faixa contemplada no primeiro dia. A previsão é de que não será possível concluir o pagamento na primeira quinzena de julho.
A folha líquida de R$ 1,1 bilhão foi subdividida em 15 grupos, para permitir novos depósitos a cada ingresso de receita. O problema é que, pelo calendário de repasses federais e do pagamento dos impostos, há dois períodos em que praticamente não entram recursos. O primeiro é entre os dias 1º e 9. O segundo, entre 14 e 20. Por isso, a previsão é de que a maior parte da folha será quitada até 13 de julho, quando entra o maior volume de ICMS, mas os remanescentes só receberão depois do dia 20. Nesse dia, são esperados cerca de R$ 80 milhões da União.
Antes da greve dos caminhoneiros, o Estado já chegava ao final do mês com um rombo de R$ 700 milhões. Nesse quadro, qualquer queda na arrecadação produz reflexos imediatos no pagamento da folha e dos fornecedores de produtos e serviços.
Desde a posse, o governador José Ivo Sartori não deu qualquer reajuste aos servidores, mas os gastos com pessoal crescem à base de 10% ao ano, como consequência dos aumentos aprovados no governo Tarso Genro para a área da segurança pública. Quando a última parcela for repassada, em novembro, os gastos anuais com pessoal estarão R$ 1 bilhão acima do valor de 2014.
Além dos reajustes da segurança, as despesas aumentam com o pagamento de adicionais de tempo de serviço e com a parcela autônoma paga aos professores para que nenhum receba abaixo do piso nacional, corrigido no início de cada ano.
A expectativa do governo de colocar os salários em dia em agosto, com a abertura do capital da Banrisul Cartões e venda de parte das ações, está ameaçada. Com a instabilidade do mercado financeiro, é possível que a operação tenha de ser adiada.
ALIÁS: A definição do grupo que receberá os salários amanhã não depende apenas da arrecadação de impostos, mas da quantidade de dinheiro que outros órgãos deixarem no caixa único, espécie de empréstimo informal que o governo faz e repõe nos dias seguintes.