Líder nos cenários em que o ex-presidente Lula é excluído das pesquisas eleitorais, o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, tem fugido de entrevistas e avalia não participar dos debates no primeiro turno. Seus aliados acham que é melhor deixar a cadeira vazia do que se submeter ao confronto com os adversários ou às perguntas incômodas dos jornalistas. A estratégia é deixar o capitão falando sozinho nas redes sociais ou nos carros de som em eventos dos quais só participam os simpatizantes de sua candidatura.
No Rio Grande do Sul, Bolsonaro já faltou a dois eventos em que ficaria ao lado de outros concorrentes. Em abril, recusou-se a participar do Fórum da Liberdade, na Capital. Em maio, não compareceu ao painel organizado pela União Nacional dos Legisladores (Unale), no seu congresso em Gramado.
O que teme Bolsonaro, afinal? Que venham à luz as contradições entre o discurso e a prática? Entre o que pregava ontem e o que defende hoje? Teme que os brasileiros que não fazem parte da claque acostumada a aplaudi-lo nos aeroportos percebam que não tem propostas? Que seu repertório na área da segurança se esgota na defesa da pena de morte e do direito de a população se armar?
Neste fim de semana, a Folha de S.Paulo lembrou que, em 2003, o deputado Bolsonaro usou a tribuna da Câmara para parabenizar e defender a ação de grupos de extermínio no país. À época, disse que, como o Brasil não tem pena de morte, esses esquadrões eram úteis e teriam seu apoio.
Fugir dos debates é típico de quem tem medo de expor suas fragilidades. De que forma os brasileiros saberão o que os candidatos pensam se não for pelos debates e pelas sabatinas? A propaganda eleitoral é, como o nome diz, propaganda. Ali não existe o contraditório, o questionamento, a cobrança para explicitar uma ideia confusa.
O deputado, que faz discurso contra a política, vive dela há 27 anos e meio. Apresenta-se como candidato a governar um país complexo como o Brasil, mas não aproveita as oportunidades oferecidas para expor suas propostas. Na semana passada, falou de suas ideias sobre diferentes temas em uma transmissão ao vivo pela internet, enquanto cortava o cabelo. Entre outras pérolas, disse que “quem quebrou o Brasil foram os economistas”.
Aliás
Entre os aliados de Bolsonaro floresce uma teoria conspiratória segundo a qual, se ele perder a eleição, a culpa será do Supremo Tribunal Federal, que rejeitou adoção do voto impresso