A seis meses de uma indefinida eleição, cinco pré-candidatos à Presidência da República reuniram-se, na tarde desta quinta-feira (10), em Gramado, na Serra. Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Manuela D’Ávila (PC do B) apresentaram suas credenciais para comandar o país em conferência promovida pela União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale).
Durante duas horas, os presidenciáveis, em conversa mediada pela colunista de Política de Zero Hora Rosane de Oliveira, discorreram sobre três temas centrais – educação, segurança pública e reforma tributária. Também convidados, os demais pré-candidatos não compareceram ao evento.
Diante de um público formado por deputados estaduais de todo o país, os postulantes ao Palácio do Planalto defenderam o aumento da responsabilidade do governo federal no combate à violência, mais investimento em segurança e educação e a urgência de um pacto federativo que destine recursos aos Estados e municípios. Meirelles saiu em defesa das reformas promovidas pelo governo Michel Temer (MDB), enquanto Boulos e Manuela dedicaram-se às críticas mais diretas ao presidente.
Boulos pediu a desmilitarização da polícia, e Manuela provocou discussão sobre a política de drogas. Meirelles disse que o governo precisa garantir o crescimento econômico para aumentar o potencial de investimento dos Estados nas polícias. Dias pregou a “tolerância zero” ao crime, e Ciro pediu esforço para sair da “mesmice” porque há “alguma novidade no mundo do crime brasileiro”.
Ao fim, Meirelles, que chegou cerca de uma hora após o início do painel em decorrência de um atraso no voo provocado pela neblina em Curitiba, no Paraná, saiu sem atender a imprensa. Coube a Ciro – dentre os participantes, o melhor colocado nas pesquisas eleitorais – atacar Temer:
– Gostaria que ele (Temer) fosse candidato para ver o tamanho da repulsa que o povo brasileiro tem a um golpista salafrário.
O que eles disseram
Alvaro Dias (Podemos)
Defendeu um modelo tributário progressivo que possibilite “mais justa distribuição de renda”. Para o pré-candidato, a tributação deve ocorrer prioritariamente sobre a renda do que sobre o consumo. No âmbito da educação, disse que as propostas de especialistas se chocam com a carência de investimentos necessários. O senador ainda sublinhou que o ensino em tempo integral “é o caminho para a formação adequada da juventude”.
Certamente, tolerância zero no combate ao crime. Os que comandam o setor de segurança pública no país devem ter autoridade para adotar as providências mais rigorosas diante das circunstâncias.
Ciro Gomes (PDT)
Destacou a necessidade de subfinancimento na educação, em um sistema que reúna municípios, Estados e União, sobretudo nos ensinos fundamental e médio. Também disse que o atual modelo educacional é “careta” e está calçado em um paradigma “fordista”. Na reforma tributária, defendeu um sistema progressivo que reduza a incidência sobre o consumo popular e aumente para os mais ricos. O “bananato”, segundo Ciro, não paga nada no país.
Precisamos de um sistema tributário progressivo que diminua a incidência sobre faturamento e investimento e consuma popular e agrave a tributação das castas mais ricas. Todo mundo aqui paga IPVA do carro, quem é dono de jatinho e iate no Brasil não paga.
Guilherme Boulos (PSOL)
Disse que educação precisa ser entendida não como gasto, mas como investimento. Para o pré-candidato, a União investe pouco no setor. Rejeitou a federalização, defendendo que a responsabilidade siga sobre municípios e Estados. Também disse que é preciso criar mais vagas no ensino superior público, ao invés de repassá-las para o setor privado. Para Boulos, o Estado atua como reprodutor da violência ao invés de defensor da segurança, sobretudo, nas periferias. Ainda pediu a revogação da PEC dos Teto dos Gastos Públicos.
O debate de armamento da população, na verdade, é um populismo da violência. Acreditar que armar as pessoas vai reduzir a violência é quase igual a acreditar que distribuir cachaça na rua vai diminuir o alcoolismo”.
Henrique Meirelles (MDB)
Saiu em defesa do governo Michel Temer (MDB) ao destacar a reforma do ensino médio. Lembrou que levar mais investimento à educação é consenso, mas que antes se coloca como necessário equilibrar as finanças públicas para destinar recursos ao setor. Meirelles ainda lembrou que o país está crescendo e citou a urgência de um pacto federativo para deslocar mais dinheiro para os âmbitos municipais e estaduais.
O discurso vazio não resolve a realidade. Um governo quebrado, que não consegue pagar as suas despesas do dia a dia, não tem condições de financiar uma educação de qualidade. Para isso, precisamos ter um governo saudável que tenha recursos e equilibre as finanças púbicas.
Manuela D’Ávila (PC do B)
Afirmou que o país necessita de uma reforma tributária que atinja os “poderosíssimos” e os “multimilionários”. Para ela, o sistema tributário brasileiro “reflete as condições de desigualdade no país”. Disse que é preciso recompor a capacidade do Estado de cuidar da educação e que o investimento deve ser priorizado no setor infantil. Manuela pontuou que lançou a pré-candidatura para combater as desigualdades econômicas e de gênero no Brasil.
Será possível que achemos razoável que 70% dos presidiários do Brasil carregassem 60 ou 70 gramas de maconha? É dessas pessoas que precisamos nos proteger, ou dos homicidas e criminosos sexuais? Acho que temos de nos defender de quem oferece mais risco.