Durou 32 dias a esperança do PSB de lançar a candidatura à Presidência do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. Filiado ao partido em 6 de abril, o magistrado que levou à cadeia a maioria dos políticos envolvidos no escândalo do mensalão anunciou que não pretende disputar a eleição deste ano. "Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente da República. Decisão estritamente pessoal", escreveu em sua conta no Twitter.
O anúncio de Barbosa tem impacto direto na sucessão de Michel Temer. Em terceiro lugar na pesquisa Datafolha de 15 de abril, o ministro ostentava 10% das intenções de voto, atrás de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) nos cenários sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A partir de agora, esse espólio é disputado por todos os pré-candidatos, sem distinção do campo político que ocupam.
Se por um lado seu perfil de homem negro e de origem pobre atrai eleitores identificados com a esquerda — em tese beneficiando Marina, Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) —, a postura radical no combate à corrupção teria potencial de reverter votos para candidatos de direita, como Bolsonaro e Flávio Rocha (PRB).
Quem mais comemorou a saída de Barbosa foram os presidenciáveis que tentam se apresentar como alternativa de centro. Até agora patinando nas pesquisas, Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (PMDB) e Rodrigo Maia (DEM) vinham manifestando desassossego com a grande aceitação do ex-ministro entre eleitores refratários às plataformas eleitorais extremistas à esquerda e à direita.
— A desistência de Barbosa empobrece o cenário. Ele representava verdadeira alternativa de renovação política, uma nova opção aos eleitores. Muitos candidatos estão aliviados — comenta o cientista político José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP.
A súbita retirada de cena de Barbosa também deve acelerar a aproximação de forças políticas. Nos últimos dias, pelo menos três movimentos ocorreram. Sem conseguir viabilizar a reeleição e vendo Meirelles estacionado em 1%, Temer acenou com apoio a Alckmin. Em quinto lugar nas pesquisas e sem condições de desprezar a máquina partidária e o tempo de TV do PMDB, o ex-governador de São Paulo não hesitou: telefonou para o presidente e marcou reunião para os próximos dias.
De olho no flerte PSDB-PMDB, o DEM de Maia agiu em duas frentes. Numa delas, costurou com o PRB de Rocha e o Podemos de Alvaro Dias possível aliança para outubro. Na outra, conversa com PP e PR sobre eventual apoio a Ciro. Ao cabo, o que Maia busca é criar alternativa que, na impossibilidade de guindar seu nome à cabeça de chapa, isole Alckmin e Temer. Para o presidente da Câmara, essa candidatura tanto pode ser alinhada à centro-esquerda (com Ciro) ou à centro-direita (com Dias).
— É difícil dizer quem ganha sem Barbosa na eleição, pois não temos uma figura com sua estatura. Barbosa tem condições de buscar votos na esquerda, no centro e na direita. Os demais não tem esse perfil — salienta Moisés.
Desprovido do potencial eleitoral do ex-ministro, o PSB volta ao jogo das alianças. Com 45 segundos de TV e 26 deputados, desfrutava novamente de protagonismo em eleições presidenciais. Tudo se esvaiu com um telefonema de Barbosa para o presidente da legenda, Carlos Siqueira, no qual comunicou sua renúncia à candidatura, duas horas antes do anúncio oficial no Twitter. Agora, o PSB começa uma série de reuniões internas para decidir que rumo tomar.
— Tínhamos um diferencial muito grande, era alguém capaz de reunificar o país. Não temos plano B. Nosso plano era JB (alusão às iniciais de Joaquim Barbosa). Vamos conversar muito — diz o líder do partido na Câmara, Júlio Delgado.
Os reflexos em outras candidaturas
Ciro Gomes (PDT) — Com a análise de que o campo da esquerda é o mais beneficiado com a saída de Joaquim Barbosa, o PDT figura como forte opção a ser escolhido pelo PSB como aliado para a eleição. A avaliação pedetista é de que há potencial para atrair boa parte dos eleitores que pretendiam votar no magistrado, ampliando assim o desempenho nas pesquisas e melhorando as condições para negociar apoios.
Geraldo Alckmin (PSDB) — É apontado por analistas como beneficiário da saída de Joaquim Barbosa da disputa presidencial ao ter a oportunidade de ser firmar como nome de centro. Além da chance de contar com o PSB como aliado, poderá receber votos que iriam para o ex-ministro. Agora, é possível que os tucanos reduzam as conversas que vinham mantendo com o PMDB de Michel Temer, já que identificavam em Barbosa a principal ameaça eleitoral.
Jair Bolsonaro (PSL) — O líder nas pesquisas eleitorais nas quais não aparece o nome de Lula pode se beneficiar do voto do eleitor para quem Joaquim Barbosa significaria opção no combate à corrupção. No PSL, a crença era de que a única real ameaça à candidatura do deputado era o ex-ministro, além do ex-presidente petista. Em entrevista ao colunista de O Globo Lauro Jardim, após anunciar sua desistência, Barbosa disse que a eleição de Bolsonaro é maior risco no horizonte. O ex-militar reagiu: "É um atestado de completa ignorância política".
Marina Silva (Rede) — Representante do PSB na disputa presidencial de 2014, após assumir a cabeça de chapa com a morte de Eduardo Campos, projeta contar com a aliança do partido e colher votos de potenciais eleitores de Joaquim Barbosa — analistas dizem que nomes de centro-esquerda tendem a ter mais chance nesse objetivo. A candidata pode se beneficiar de semelhanças com o ex-ministro do Supremo, como a origem pobre. Até mesmo uma chapa única com ambos era considerada nos bastidores.