Filiado a um partido aos 45 do segundo tempo, no dia 6 de abril, e sem apresentar oficialmente candidatura à Presidência da República, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa é o personagem que mais se destaca na pesquisa do Datafolha divulgada pela Folha de S.Paulo, neste domingo (15). Principiante na política, o magistrado empatou ou ficou à frente de nomes que estão há muito tempo na lida partidária, como Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Michel Temer (PMDB).
Convidado no ano passado pelo PSB para ser cabeça de chapa na disputa pelo Planalto, até fevereiro Barbosa não havia dado sinais de que queria concorrer. Dizia aos caciques do partido que finalmente estava aproveitando a vida e a aposentadoria e revelava que estava se dedicando ao escritório de advocacia que leva seu nome. A divulgação da pesquisa fez o PSB cobrar do ministro aposentado do STF entrosamento com os filiados. Na quinta-feira, tem reunião com a direção da legenda, em Brasília.
– Veja que ele ultrapassou alguns que estão há meses e há anos. Ficamos satisfeitos, embora o resultado ainda não reflita o potencial – ponderou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Em um cenário com 23 pessoas assumidamente candidatas, a intenção de votos se dissipa. Pode-se dizer que Barbosa é o outsider mais promissor entre os que se colocaram à disposição para concorrer. Flávio Rocha (PRB) e João Amoêdo (Novo) não conseguiram atingir mais do que 1% das intenções de votos. Valéria Monteiro, do nanico PMN, sequer foi posta no rol de candidatos do levantamento.
Primeiro negro a assumir uma cadeira no STF, Barbosa ficou conhecido do grande público durante o julgamento do mensalão, no qual era relator. Condenou José Dirceu e outros 10 réus por formação de quadrilha. Sua aposentadoria, aos 59 anos em 2014, fez Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski suspirarem de alívio. O trio era o alvo preferido de Barbosa quando resolvia comprar briga.
Inimigo público do PT durante a apreciação da ação penal 470, o ex-ministro usava, até o ano passado, o Twitter para dar palpites sobre a vida política do país. Em 2016, chamou o processo de afastamento da então presidente Dilma Rousseff de “impeachment Tabajara”, o qual, no primeiro momento, parte do PSB apoiou. Agora, Barbosa não tuita mais. Talvez por medo de se comprometer a seis meses da eleição.
Aliás
Em pesquisas anteriores, o Datafolha incluía Joaquim Barbosa como candidato. O último levantamento, no entanto, é o primeiro com o ex-ministro do STF efetivamente filiado a partido político.
Radicalismo em baixa
O PT bem que tentou, mas não conseguiu censurar a pesquisa Datafolha que mediu cenários sem o ex-presidente Lula, encarcerado na Polícia Federal desde a semana passada. É o primeiro levantamento realizado desde a prisão do petista.
O ex-presidente continua liderando as intenções de votos e, conforme o levantamento, 32% do eleitorado diz que votaria em candidato apontado por ele. Por outro lado, Fernando Haddad e Jaques Wagner (ambos PT) não empolgam e têm, respectivamente, 2% e 1% da preferência dos questionados.
Se Lula não for candidato, quem herda seus votos são, respectivamente, Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e, para a surpresa de alguns, Jair Bolsonaro (PSL).
O resultado da pesquisa sugere ainda que há menos radicalização após a prisão de Lula. Nas respostas espontâneas, grupos extremos, tanto contrários como favoráveis ao ex-presidente, estão menores, enquanto o voto menos radical cresce.