A decisão do Partido Progressista (PP) de afastar o deputado federal José Otávio Germano das atividades partidárias e das funções exercidas na comissão executiva e no diretório estadual é mais um ato do drama vivido pelo parlamentar que já foi a grande aposta da sigla no Rio Grande do Sul. Nascido em uma família de políticos, o filho do ex-vice-governador Octávio Germano teve poder, dinheiro e prestígio, mas perdeu tudo.
Com a saúde fragilizada, passa mais mais tempo afastado da Câmara do que no exercício do quarto mandato de deputado federal. Emenda uma licença médica em outra, mas se recusa a aceitar os conselhos para renunciar ao mandato e permitir a convocação do suplente.
A carreira política começou há 40 anos, como vereador em Cachoeira do Sul. Foi presidente da Assembleia de 1995 a 1997, concorreu a vice-governador em 1998, na chapa encabeçada por Antônio Britto, e assumiu a Secretaria da Segurança Pública no governo de Germano Rigotto (2003-2006). Nos últimos anos, desceu os sete círculos do inferno, tragado pela dependência química e pelo envolvimento em denúncias de corrupção. Escapou da Operação Rodin porque tinha foro privilegiado e o Supremo Tribunal Federal entendeu que havia sido investigado sem autorização, mas arrastou para o escândalo pessoas próximas, que acabaram condenadas.
Desde que ele se tornou réu na Lava-Jato, a direção do PP vem sendo pressionada a negar o registro de candidato a José Otávio na eleição de outubro. Essa decisão só será tomada em reunião do diretório estadual, convocada para 30 de julho. A nota divulgada nesta quinta-feira diz que a lista de candidatos será montada depois de analisar “a conveniência e oportunidade, no campo moral e ético, bem como outros aspectos de regionalidade e competitividade, sempre colocando o coletivo acima do individual”.
Embora fale em “prestar uma ajuda que o faça retornar à convivência normal e respeitosa”, em nenhum momento o PP fala do envolvimento com drogas, problema confirmado pela família, que tenta convencer o deputado a seguir o exemplo do ex-jogador Walter Casagrande, que tornou pública sua dependência de cocaína e faz tratamento para se livrar do vício.
— Meu primo é uma pessoa doente. Precisa de tratamento — diz o jornalista Farid Germano Filho, que postou nas redes sociais um desabafo gravado.
O PP justificou o afastamento com argumento de que episódios como os da sexta-feira passada, em que duas transexuais fizeram um escândalo em frente ao edifício dele, cobrando dívidas de supostos programas (ele pagou R$ 2,5 mil), são “lamentáveis no campo da moral e da ética”. Na nota, o PP registra sua contrariedade e desaprovação com o acontecido e pede “sinceras desculpas à comunidade, especialmente aos filiados e aos eleitores que se sentiram atingidos”. Diz que as ocorrências “maculam a representatividade por si exercida, bem como atingem a dignidade da pessoa humana”.
Por meio de nota, a assessoria do deputado reafirmou que ele está sendo vítima de extorsão, lamenta não ter sido convidado para a reunião do partido e "reitera que fará a melhor de suas eleições para a Câmara dos Deputados".