Sob pressão de filiados e eleitores, a direção do PP gaúcho reagiu ao tumulto envolvendo o deputado federal José Otávio Germano na semana passada e decidiu afastá-lo das atividades partidárias e do diretório estadual. O parlamentar será submetido ao conselho de ética da legenda e já não tem mais a garantia de que poderá disputar a reeleição.
— Os fatos nos constrangem e estamos sendo cobrados. Todos somos responsáveis pela imagem do partido e o que aconteceu prejudica muito — afirma o presidente do PP-RS, Celso Bernardi.
Na última sexta-feira (22), José Otávio foi pivô de uma confusão em frente ao prédio onde mora, no bairro Petrópolis, na Capital. Aos gritos, duas transexuais cobravam uma suposta dívida do deputado. O caso só se encerrou depois que a Brigada Militar interveio. Um dos soldados intermediou a negociação, pegou R$ 2,5 mil com José Otávio e entregou às transexuais, sob condição de que elas deixassem o local. A atuação dos policiais está sendo investigada em Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pelo comando do 11º Batalhão de Polícia Militar.
Embora tenha repassado o dinheiro, José Otávio negou qualquer dívida. Em nota, disse ter sido vítima de "grosseira tentativa de extorsão" e de uma "armação evidente". Procurado várias vezes por GaúchaZH, o deputado enviou uma nota na tarde desta quinta-feira (28), afirmando que não foi "avisado ou comunicado, convidado, ou ao menos convocado para participar da reunião da Executiva estadual". (Confira a nota na íntegra ao final do texto)
Na segunda-feira, as duas transexuais foram recebidas na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Acompanhadas por dirigentes das ONGs Igualdade RS e Outra Visão LGBT, elas relataram medo de sofrer represálias do deputado.
A decisão do PP de afastar o parlamentar ocorreu na terça-feira, mas só foi divulgada no final da manhã desta quinta-feira (28). Assinada pela comissão executiva do partido, a nota afirma que os recentes fatos envolvendo José Otávio são "lamentáveis no campo da moral e da ética" e "maculam a representatividade por si exercida".
Salientando respeito à vida privada do deputado, o texto diz que o partido está disposto a "prestar uma ajuda que o faça retornar à convivência normal e respeitosa, tanto em sociedade quanto no desempenho do mandato e das atividades políticas." Desde o início da atual legislatura, José Otávio apresentou sucessivas licenças para tratamento de saúde e é o mais faltoso parlamentar da bancada gaúcha.
Além de enviar o caso para apreciação do conselho de ética, o partido decidiu que irá avaliar se José Otávio poderá concorrer à reeleição pela legenda. No exercício do quarto mandato, o deputado tinha, até então, vaga garantida na lista de candidatos à Câmara dos Deputados, justamente por ter o cargo. Agora, a questão será decidida no dia 30 de julho, em reunião do diretório estadual.
Dirigentes e outros parlamentares do PP vinham manifestando contrariedade com o espaço dado pelo partido para mais uma candidatura de José Otávio. Pesavam contra ele, sobretudo, as duas ações penais as quais responde no Supremo Tribunal Federal em decorrência das investigações da Lava-Jato. A confusão com as transexuais acabou elevando a tensão interna.
— Por enquanto, ninguém é candidato. A lista será submetida ao diretório e aprovada na convenção. Claro que pesa um candidato que carrega todos esses problemas –admite Bernardi.
Cobrado pela demora do partido em agir e só suspender o deputado após o episódio envolvendo as transexuais, e não por ocasião das denúncias de corrupção, Bernardi disse que o diretório estadual não teria como puni-lo antes do fim dos processos judiciais.
— Em nenhum momento ele foi condenado. Quem poderia agir em relação a isso é a direção nacional — sustenta.
Quem conhece os bastidores do partido, porém, considera muito difícil José Otávio perder a legenda. Além de ter excelentes relações com a direção nacional, seria complicado encontrar justificativas legais para barrar a candidatura.
— Do ponto de vista jurídico, será muito difícil impedi-lo de concorrer — afirma um parlamentar.
Contraponto do deputado José Otávio Germano
Devido à nota publicada, nesta quarta-feira, 28, pelo Diretório Estadual do Progressistas do Rio Grande do Sul, na pessoa do presidente regional Celso Bernardi, o Deputado Federal José Otávio Germano esclarece:
1) Lamenta profundamente o ocorrido;
2) Reitera que foi vítima de chantagem e extorsão, como já mencionado em uma publicação, nas redes sociais, no último domingo, 28, onde foi descrita a extorsão, exemplificadas em trechos de mensagens recebidas pelo aplicativo, whatsapp, pelo Deputado. Ele esclarece que tais tentativas de obtenção de vantagens financeiras são feitas por uma mulher que com quem teve um relacionamento.
3) Ainda durante o fim de semana o Deputado José Otávio entrou em contato com presidente Celso Bernardi e explicou ocorrido, em detalhes, inclusive submetendo previamente ao presidente Celso a minuta da nota divulgada no domingo, 24, que teve a concordância do presidente Celso Bernardi.
4) O Deputado Federal José Otávio ressalta que desde 1980 está filiado ao Partido Progressista, completando este ano 38 anos de filiação ao mesmo Partido Político, e se diz surpreso por não ter sido embora, sendo Deputado Federal, e membro da Executiva Estadual do partido não ter sido avisado ou comunicado, convidado, ou ao menos convocado para participar da reunião da Executiva estadual, na última terça-feira, que tivesse ocorrido teria tido a presença do Deputado José Otávio e com certeza eventuais duvidas já teriam sido esclarecidas naquele mesmo dia. O Deputado lamenta e estranha profundamente não ter sido informado da reunião.
5) O Deputado José Otávio considera absolutamente normal prestar esclarecimentos a qualquer instância Partidária, inclusive no Conselho de Ética do Partido. Tendo absoluta convicção de que não praticou nenhum ato que denegrisse o Partido o qual pertence, e agradecendo as sentenças de manifestações de solidariedade recebidas, reitera que fará em 2018 a melhor de suas eleições para a Câmara dos Deputados.